quinta-feira, 16 de julho de 2009

Voltar a ser Criança

Voltar a ser criança

Como gostaria, de um dia, nem que fosse por apenas alguns minutos, voltar a ser criança. Voltar a morar na antiga chácara, ali na rua Sete de Setembro, ao lado do armazém do “Seu Cacildo” embalar balas na antiga fábrica do Zé do Lino, ou quem sabe escolher café na fábrica de café do Seu Waldir Cardoso. Aos domingos, pela tarde reunir-se no campinho ao lado da casa e jogar peladas com os times da vila.
Tenho saudade até das brigas da gurizada disputando as laranjas que eu e meus irmãos jogávamos de cima das laranjeiras, só para atrapalhar o jogo, já que não éramos às vezes convidados a jogar, por que já existiam guris demais. Nos dias de semana era comum a gente se reunir para caçar preás, a beira dos trilhos da estação da Viação Férrea, de onde sempre voltava com as mãos abanando, pois alem da péssima pontaria eu não fazia a mínima questão de acertar os bichinhos. Tenho saudade dos brinquedos de “mocinho” imitando os filmes de faroeste da época, onde eu e o Perceu (filho do Seu Aníbal) éramos os maiores fabricantes de revólveres para a gurizada, tudo na base da improvisação, enquanto um preparava o revolver o outro preparava o coldre e a cinta com balas. Dali saia o dinheiro para a matinê no Cine Marabá, dava para comprar a entrada e ainda de lambuja alguns gibis.
Saudades da Janete, da Vanda da Verinha, as meninas de nossa época por quem sempre sonharam, e me considerava namorado. Nunca me esquecerei quando a Vanda um dia, apareceu no portão da chácara e me convidou para irmos juntos a matinê, eu quase caio sentado, era tão bonita, morena, magra com cabelos lisos e longos, andava sempre com a boca pintada, e apesar de mais velha do que eu era aquela que eu mais gostava.Naquele tempo não havia tanta malícia, nem insegurança como agora.A gente se organizava em grupos e ia fazer pique nique no morro de Sapucaia, passava um ou dois dias acampado, íamos a pé ou de bicicleta, atravessando pátios para atalhar, moças e rapazes com alegria e descontração.
Hoje o encanto acabou, o saudosista passou a ser chamado de careta, o conservador virou ultrapassado, o romântico virou afeminado e com tudo isto, estes novos modismos, a mulher, antes a deusa que povoava os sonhos dos meninos, se transformou no objeto descartável, as quais se trata com desrespeito agressões, e muitas das vezes sem nenhum carinho.Eu queria, queria sim que fosse possível voltar a ser criança, dar o abraço no meu pai, que eu não dei, poder dar mais beijos no rosto de minha mãe, do que aqueles que eu dei.Rever todos os meus amigos, fazer um caminhãozinho de lata, ou uma espingarda de madeira.Voltar a ver o pomar da chácara coberto de flores, correr pelo milharal, colher aipins, viver a vida com simplicidade, mas com fartura, com pobreza, mas, com esperança, com humildade, mas com dignidade.

Um comentário:

Alda Inácio disse...

ah ! Meu amigo Jaí, eu nao tenho esta mesma vontade que tu mas eu te compreendo. A miséria em que vivi foi tão profunda que cada vez ao me lembrar penso que estou dentro de um pesadelo.
E ainda mais grave, minha mãe não queria que eu estudasse e como o seu Andrea quis pagar meus estudos, sendo um vizinho, um desconhecido, ela, minha mãe mudou-se para Esteio afim de ver se eu desistia da idéia de estudar. Eu continuei os estudos andando a pé de uma cidade para outra contra a vontade dela até terminar o ginásio. Fui fazer o colegial casada e com 3 filhos em São Paulo.

Mas li teu depoimento aqui e achei muito lindo.Imocionante.

Grande abraço
Tua amiga Alda