E, a água levou.

Sempre que nos deparamos com acontecimentos inesperados como estes que assolam o nosso estado, costumamos contabilizar os prejuízos em cima dos estragos causados ao solo. Nas cidades as autoridades olham para pontes, estradas, vias de acesso e bem lá no fim do relatório entram então as vítimas, as pessoas atingidas. Somos um povo de bom coração, estendemos a mão com vontade, de coração, logo, mesmo aqueles que perderam tudo não ficam sem um abrigo, sem uma roupa, sem um agasalho. Mas, quero pedir licença aos amigos para uma reflexão um pouco mais profunda e que talvez algumas pessoas ainda não tenham tomado consciência. As forças da natureza não escolhem vitimas ao acaso, elas pegam ricos, pobres, casebres,mansões, as águas serpenteiam por entre minúsculas frestas invadem tudo, vão encharcando, levando de roldão os parcos alimentos comprados para o dia a dia assim como os estoques guardados para grandes festas e eventos.Porém, triste sina,quem mais perde são sempre os mais pobres,os mais desassistidos, aqueles esquecidos pela sorte, que muitas das vezes tem como única alternativa morar a beira de arroios em zonas mais baixas ou áreas alagadiças.Nestas moradias tudo é humilde, muitas das vezes moveis e utensílios feitos com restos de madeira,cama, armários até a pequena despensa onde se recolhem os alimentos comprados para a semana. Outros um pouco mais afortunados, reservam parcas economias para a compra de um velho refrigerador reformado, um fogão a gás, uma Tv e ali, mesmo nas dificuldades da lutas diárias, dividem um pouco de conforto com a família. Mas vem  a água e leva tudo de roldão, os velhos e empobrecidos utensílios seguem o caminho trágico da correnteza, levando tudo, muitas vezes , vidas. Será que não seria o caso de mudarmos a maneira de contabilizarmos prejuízos? Sim, pois para aqueles mais abastados, muitas vezes com casas de aluguel como renda, recuperar um Freezer, uma Tv,um roupeiro,roupas e agasalhos não vai impactar tanto assim. Mas, aquele pobre coitado que perdeu a o casebre, e tudo o que levou muitos anos para comprar, só vai conseguir recuperar aquilo que a caridade alheia lhe estender. Difícil aceitar estas coisas, quando se bate tanto em afirmar que todos somos iguais perante a lei. Será verdade isto? Das tragédias dos anos anteriores ainda não vieram recursos para que as pessoas pudessem voltar a ter dignidade, e estes milhares de gaúchos, hoje assolados será que podem sonhar com alguma ajuda? Até quando os mais humildes terão que carregar esta cruz.