Dentre as tantas correspondentes que consegui com o envio de pedido a um programa de rádio, ainda na minha adolescência, duas foram as que mais me marcaram, me sensibilizaram, a primeira já comentada no texto anterior, e a segunda chamava-se Irma Mara da Rocha Alberti. Nunca a conheci pessoalmente, apenas por fotos, era uma moça bonita, morena, cabelos longos e lisos, a boca sempre pintada com batom de cor muito forte. Escrevia muito bem, sem erros, letras caprichosamente desenhadas, e com uma particularidade toda especial, as cartas eram todas decoradas com desenhos a mão e também perfumadas. Isto mesmo, as cartas tinham um perfume tão bom, eu lia e relia aquelas páginas com uma emoção tão grande. Sonhava em me apaixonar pela Irma Mara, e muitas destas cartas falaram de amor, um amor distante, impossível, mas impregnado de muita paixão. Irma Mara se dava ao trabalho de raspar lápis de cor sobre o papel, e depois com um pedaço de algodão esparramar aquele pó em diversas nuances a escrita sempre com tinta preta alcançava um destaque muito interessante ao conteúdo. Geralmente eram sempre duas ou três folhas escritas, sendo que a última era sempre uma poesia. De todas as correspondentes esta foi a que mais demorou com as cartas, nos comunicamos através destas cartas por mais de três anos. Estas como outras tantas missivas eram todas guardadas em uma velha mala de viagens, que eu punha debaixo da minha cama. Depois que nos mudamos da chácara, viemos morar numa casa bem menor, onde havia um galpão que passei a usar como uma pequena oficina para minhas invenções. Acontece que morávamos numa casa com treze peças, onde cada um tinha o seu quarto com todo o conforto. Viemos direto para uma casa de quatro peças, a solução foi arrumar uma grande lona e deixar na rua, no pátio aquilo que não coube dentro da casa. Num quarto dormiam meus pais, e no outro eu e os três irmãos, as camas eram todas grudadas, passávamos uns sobre os outros para irem cada um para o seu lugar, foram tempo muito duros. Desta forma minha mala de cartas acabou tendo que ficar na rua, dentro de um pequeno galpão com outras tralhas. Uma noite, um temporal com chuva, vento e pedras arrasou o galpão e como conseqüência minhas cartas ficaram reduzidas a um monte de papel molhado que nunca mais puderam ser recuperadas. Assim, foi-se o sonho e as lembranças do amor impossível, foram-se todas as mensagens, as poesias, as fotos, as recordações de mais de cinco anos de troca de confidencias. Mas, ainda hoje, passados mais de cinqüenta anos ainda sinto o perfume daquelas cartas tão bonitas, tão carinhosas. Cartas com perfume de mulher.
quinta-feira, 20 de março de 2014
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