A Chácara. (continuação).
Nossa nova casa, era de
alvenaria, uma casa antiga. O banheiro ainda era do tipo “escarióla”, ou seja,
não era revestida de azulejos. Na frente, bem abaixo do beiral das telhas havia
uma inscrição –Vila N.Srª.das Graças – e, ao pé desta um gruta com a imagem de
Nossa senhora.A gruta era toda coberta de flores, plantadas a sua volta e a
entrada protegida por aspargos. Em toda a sua volta, a chácara era protegida
por enormes pés de cinamomo, plantados a um distancia de três ou quatro metros
um do outro.O terreno era todo cercado por arame farpado, coberto com cerca
vivas.
O dia a dia na casa era o mesmo de todas as crianças, aos poucos foram
chegando os amigos, organizamos times de meninos, para ocupar um pequeno
campinho existente ao lado. Eu era goleiro, mesmo caminhando com um aparelho
ortopédico para firmar a perna direita, era o goleiro escolhido. Meu pai
costumava ficar fulo de raiva, pois cada jogo representava uma quebra na junta
do aparelho. Por conseguinte eu ficava de molho sobre a cama, enquanto ele
levava o aparelho na fábrica para que um dos mecânicos soldasse novamente.
Tínhamos o nosso CTG,(Estrela do Pago) criado por uma professora de
acordeom(Delfina Miranda) ali ensaiei as primeiras poesias. Como tinha certa
dificuldade para dançar, eu era o escolhido para fazer as apresentações – Chirú
das falas – gostava de declamar, as poesias de Jaime Caetano Braum, Barbosa
Lessa, e tantos outros autores da época. Organizávamos bailes, e recebíamos
visitantes das cidades vizinhas. Era um evento para a rapaziada, o Luisinho,
Eloir, Zezo, Luiz,Nêne, Gelson,Marlene, Ivon,Chico,Miguel,Omar,Maria,Negrinha.
Tantos outros que foram saindo, se mudando. Costumávamos participar de
encontros em outros municípios e um que nunca mais saiu de minha memória foi de
uma participação em um baile em Taquara, e fomo de trem. Saímos no sábado pela
manhã e só retornamos na segunda pela manhã, pois não havia trem aos domingos
para Porto Alegre. Dormimos todos dentro dos vagões estacionados na estação de Taquara.
De outra feita, resolvemos (nos da casa) oferecer um carreteiro para o grupo de
amigos do CTG.
O local escolhido foi debaixo das pereiras. Foi um espetáculo,
iluminamos tudo com várias lâmpadas estratégicamente colocadas nos galhos mais
altos, varremos as folhas, montamos uma grande mesa, e ali ao som da gaita
de outros instrumentos ficamos até altas
horas dançando,brincando. Tudo sem malicias, sem abusos.Mas, as dificuldades da
viúva e proprietária da casa foram se avolumando, e finalmente veio a má
notícia, a chácara seria posta a venda. Aquilo caiu em nossas cabeças como uma
bomba, as plantações, o pomar, as flores tudo cuidado, tudo mantido com
carinho.
Não precisávamos mais cuidar de nada. Podíamos ter que sair a qualquer
momento. Lógico que ninguém queria sair dali. Adorávamos a chácara. Uma manhã
de sábado D. Elvira, acompanhada da tia Lucia e mais um homem apareceram por
lá. Era um engenheiro amigo da viúva que vinha fazer uma avaliação geral da
casa. Realmente a casa era uma construção antiga, e apesar de todos os cuidados
apresentava algumas fendas, naturais pelo movimento do solo em algumas peças.
Inclusive o engenheiro alertou para que ficássemos de sobreaviso, pois em caso
de trovoadas mais fortes poderia ocorrer a queda de algum pedaço de parede.
Moramos por mais de dez anos, nunca caiu um farelo sequer de cimento. Para nos
aquilo serviu para assustarmos alguns compradores, eles vinham, olhavam,
perguntavam, e a gente (os filhos) alertávamos:
Olha, estas paredes já estão
condenadas pelo engenheiro, se comp,rarem vão ter que demolir aqui, restaurar
ali. Lógico o compador não aparecia nunca mais. Tanto os pai quanto a mãe ,
não falava nada, mas no fundo, no fundo gostavam das nossas mentiras piedosas.
....................continua...........
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