domingo, 6 de julho de 2014

Vó Sovelina.
Acredito que poucas sejam as pessoas que ainda não tenham tomado conhecimento do vídeo que rola pela Internet, bem como tema nas redes televisivas. Nada de extraordinário, o vídeo mostra a proeza de um jovem descendo uma ladeira em seu carrinho de lomba ,enquanto o amigo narra com entusiasmo a cena que se desenrola. Mas, o que chama a atenção para o fato é o jeito “caipira” digamos assim que o jovem narrador impõe ao fato. Um diálogo curto; lá vem o Marco, descendo o morro da vó Sovelina, taca o pau Marco,taca o pau, mas, eita Marco veio. Fiquei alguns dias a pensar sobre a repercussão dada ao fato, milhares de pessoas  curtiram, compartilharam, repassaram aquela imagem nas redes sociais como se fosse um grande acontecimento, quando na realidade não passava de uma brincadeira de dois amigos, algo comum nas comunidades onde ainda existem, e persistem os costumes de se criarem alternativas caseiras para a diversão do dia a dia. A conclusão que se chega é que com as facilidades existentes hoje em dia, aos poucos aquelas brincadeiras simples, que eu e muitos dos que estão lendo estas linhas usaram, se tornam coisas de maluco, fatos extraordinários. As crianças de agora não tem as mínimas condições de construírem um simples carrinho de lomba, um invento pobre que usa alguns pedaços de madeira, alguns pregos, duas rodas, e que, no entanto, fez com que milhares de pessoas a ficassem de boca aberta vendo o “Marco veio”  descer o morro da vó Sovelina. Hoje as velhas e surradas rodas de madeira construídas artesanalmente, foram substituídas por rolamentos de aço,a tábua cheia de felpas,deu lugar a placas de material sintético, muito mais resistentes e seguras,já não se usam mais os pregos, parafusos na medida os substituem com muito mais segurança.Lembro-me muito bem do tempo de guri, na chácara onde morávamos,havia em volta da casa uma espécie de trilha, um passeio, totalmente calçado por onde a gente corria com um carrinho de lomba que eu construíra, espécie de protótipo de uma lambreta. O brinquedo era disputado pela turma que costumava fazer fila para dar uma voltinha na invenção. Hoje praticamente fica impossível fazer algo parecido, pelo menos aqui pela cidade, primeiro porque a invenção seria condenada pela falta de segurança e segundo porque as crianças provavelmente não saberiam como fazer para usá-la. Resta-nos o lado bom da internet que nos permite voltar ao tempo de infância, quando tantas foram as vezes que pilotando carrinhos de lomba caseiros, eu e os de minha época, descemos acelerando o morro da Vó Sovelina. A saudade é um sentimento que nos permite viver várias vezes um bom momento.

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