quinta-feira, 24 de junho de 2010

Procura-se


Procura-se

Procuro alguém, com paciência infinita para cuidar de uma pessoa idosa. Procuro alguém com amor suficiente para retribuir o amor incansável e acolhedor de uma velha senhora. Procuro alguém com disposição para passar noites a fio sem dormir, trocar fraldas, dar banho, remédios, procuro alguém para tomar conta da minha mãe. Procuro alguém para fazer pela minha mãe, tudo aquilo que ela já fez por mim, e que agora por covardia, por egoísmo me recuso a fazer por ela.
Tenho certeza de que se colocasse este anuncio em algum jornal, seria procurado, e obrigado a dar explicações a algum juiz ou quem sabe a delegacia do idoso. No nosso pais, é muito fácil criticar individualmente os atos dos outros, principalmente em relação ao respeito, e as obrigações para com aqueles que já não podem sustentar-se sozinhos, aqueles cujos conhecimentos, e as experiências já ajudaram muitos por longos anos.
Incomoda-nos ver como se alimentam, nos incomoda ver com mastigam, como resmungam como roncam. Como deixam cair restos de alimentos. E nós já fizemos tudo isto, e muito mais. No entanto não fomos largados e jogados as traças, não nos largaram nas mãos de estranhos, muitas vezes estúpidos, impacientes, verdadeiro algozes. No Brasil, hoje os idosos já ultrapassam a cifra dos sessenta milhões e desta parcela mais de setenta por cento em condições subumanas de sobrevivência e, no entanto, não aparece ninguém para mudar esta realidade.
Recentemente, por ocasião da hospitalização de um familiar, fiquei chocado com o atendimento prestado por um hospital aqui da região, o São Camilo de Esteio, num quarto com aproximadamente quarenta metros quadrados, duas janelas (fechadas) oito leitos sobre os quais idosos com os mais diferentes diagnósticos. E ali constatei uma situação até então inusitada para mim, os cuidados de higiene, e alimentação bem como com o controle de equipamentos, sondas, etc. Ficam, muitas das vezes, nas mãos de pessoas estranhas, isto é, pessoas sem as mínimas condições de higiene, sem máscaras, sem luvas, que sequer sejam auxiliares de enfermagem atendendo três, quatro pacientes, fazendo plantões noturnos substituindo familiares que as colocam lá pelas mais estranhas justificativas.
Ora, se existem órgãos responsáveis pelo atendimento e respeito aos idosos porque não fazer uma investida, nestes asilos, hospitais nestas tais casas especializadas em atendimento a terceira idade, acontecem verdadeiros absurdos por conta de entregar nossos velhos nas mãos muitas vezes de oportunistas que visam apenas e tão somente apoderar-se da minguadas pensões e aposentadorias.
Zelar pelos nossos velhos é preservar as experiências, o conhecimento e principalmente as grandes lições de vida que eles nos podem repassar. Eles foram o que somos nos seremos aqueles que eles são.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Cadeirinhas e cadeiradas.

Se alguém ainda não tomou conhecimento, até o final do mês de maio do corrente ano as mortes no transito já superam as cifras dos setecentos. Isto mesmo, setecentas vidas ceifadas de modo cruel e desumano frutos da irresponsabilidade de alguns e do desleixo de muitos. Parece difícil, se não impossível, nossos motoristas se conscientizarem de que a única forma de preservar a própria vida é sendo responsável.
Dar um basta nesta guerra, sanguinária e absurda, não depende de multas, cintos, cadeirinhas, taxas, ou um pedaço de papel dizendo que este ou aquele está habilitado, basta respeitar as leis existentes, sermos educados, e termos em mente que o sofrimento não é para aquele que fica estirado no asfalto ou preso entre as ferragens do carro. Quem sofre são os familiares, mães, pais, irmãos, amigos, esposa, namorada.
Um dado que nos deixa perplexos, é saber que a grande maioria das vítimas fatais estão na faixa etária entre dezoito e vinte e seis anos e o pior,estão alcoolizados. Mas, se por um lado estamos a falar dos deseducados, dos irresponsáveis, dos assassinos do transito temos também o dever de incluir nesta relação, e muito mais do que isto, questionar seus procedimentos são as autoridades, governamentais pelo muito pouco ou quase nada que fazem para coibir esta guerra.
Cada vez que as famosas estatísticas sobem, os nossos técnicos e entendidos, tiram da cartola uma nova idéia revolucionária, foi assim com a lei dos faróis acesos, da famosa caixa de primeiro socorros, do cinto de segurança, do extintor de incêndio, do gancho de reboque. Já escrevi anteriormente que não tem coisa mais ridícula, e imbecil dizer que ter um pedaço de papel timbrado, salve a vida de alguém. Eu posso estar habilitado e não ter carteira, assim como posso ter a carteira e não estar habilitado.
A bola da vez é a famosa cadeirinha, exigência que se tornou lei, porque algum técnico do CONTRAN entendeu que este equipamento pode salvar vidas. A eficiência deste equipamento é discutível, veja-se o exemplo do acidente ocorrido recentemente quando cinco pessoas da mesma família faleceram. Naquele tipo de ocorrência a cadeirinha seria apenas mais um acessório complicador. E o pior de tudo isto é que o criador desta idéia optou por recomendar apenas para carros de passeio, caminhões, vãs e ônibus poderão transportar crianças sem a cadeirinha porque ali não correm perigo, pelo menos é o que acha o este cidadão.
Mas, e o estado das rodovias esburacadas das estradas em petição de miséria, do asfalto “faz de conta” das sinalizações inexistentes? Quem pune esta corja de assassinos? A quem compete cobrar as responsabilidades por tantas mortes? Será que sempre o motorista é o culpado? O estado nada tem a ver com isto?Alguém já pensou em processar o estado? Está na hora.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Estatísticas


Confesso que tenho verdadeira alergia a estatísticas, elas são mentirosas, induzidoras de falsas tendências e podem de acordo com quem as manipula, serem maquiadas, com as mais diferentes formas de enfoques. Costumo orientar-me apenas e tão somente através das notícias veiculadas pelas mais diferentes mídias.
Assim, não me assustam mais as informações sobre assaltos, roubos, mortes, que povoam nossos noticiários. Aprendi a encarar toda esta anarquia social como algo de ruim que deve acontecer, com todos nos. Mais hoje, mais amanhã seremos alvo de algum tipo de violência. O pior de tudo isto é que não existe solução, nem a curto, médio, ou longo prazo. Tampouco depende de verbas, de atitude política, ou de batalhões de policiais nas ruas, pois sempre haverá um ponto a descoberto, e o infausto acontecerá exatamente ali.
Mesmo que fosse possível, colocarmos um PM em cada esquina, ainda assim haveria o perigo, pois a vitima seria ele próprio. Nestas alturas do campeonato muito pouco ou quase nada resolve estar preparado, armado, ou ser campeão de artes marciais. Quem é honesto, acha que todos o são, quem é bandido aproveita o momento, a vantagem da surpresa, e ataca.
A verdade, é que a vida não vale mais nada. Não importa a condição social, a cultura, a idade ou o poder, estamos na mira, todos somos alvos em potencial. A qualquer momento poderemos ser parados, e despojados de nossos pertences, quando não, de nossas próprias vidas. A segurança foi banalizada a ponto de não mais nos causar impacto um corpo estirado na via pública, ou no asfalto de uma rodovia. É apenas mais um. As autoridades até riem quando adentramos a uma repartição para darmos queixa.
O próprio sistema de segurança já instituiu um formulário padronizado, o que muda, é apenas o nome, o endereço, o RG. Os ladrões via de regra, são velhos conhecidos, dos policiais e os objetos também o são celulares, carteiras, bolsas, chaveiros, correntinhas, anéis tudo aquilo que você comprou um dia e pensou que era só seu. É claro, estamos falando dos tais menores de idade, os “pedreiros”, os coitadinhos, aqueles mesmos que apertam o gatilho de uma arma de fogo como qualquer adulto.
Nem mesmo dentro de nossas próprias casas estamos em segurança. Você esta, tranquilamente em sua sala assistindo a um jogo ou jantando com amigos e no minuto seguinte todos os seus eletrodomésticos estarão rumo ao desconhecido. Você, sua família, seus amigos com certeza estarão remoendo ás mágoas e as raivas, trancafiados num banheiro.
E então, volta a rotina, registro de ocorrência, respostas aos policiais, uma folha com o que foi informado, você saindo cabisbaixo e decepcionado e mais uma queixa que vai para a gaveta. Isto fará parte mais tarde da tal estatística.