sábado, 30 de agosto de 2014

Expoínter.


Ao ensejo demais uma exposição que inicia, com todas as suas pompas e luxúrias para com animais de raça, autoridades do agronegócio, e políticos, mais do que isto, vendo que uma égua passava por tratamento de beleza com a aplicação de mega hair, veio-me a lembrança um fato acontecido a alguns anos numa destas feiras. Na época era participante de uma Associação de doadores de sangue, e havíamos recebido convite para que participássemos do ato de coleta de sangue, junto ao ônibus do Hemocentro. No dia, fui com outros participantes, colocamos o carro no estacionamento (lá na beira do rio dos Sinos) e vínhamos a pé. Tenho muita dificuldade em caminhar longos percursos, e seguidamente dávamos uma paradinha, para descanso. Foi quando avistamos um destes carrinhos elétricos que vinha justamente do estacionamento, vazio em direção ao parque. Um dos amigos que me acompanhavam, fez sinal o carrinho parou e ele pediu gentilmente se não podia dar uma “carona” para mim, pela dificuldade em percorrer o trajeto. A resposta foi seca; este carro só transporta “autoridades”. Ele seguiu em busca das autoridades e nos seguimos a pé. Graças a Deus deu tudo certo, cumprimos nossa tarefa, e o fato foi esquecido. Porém agora, mesmo passado algum tempo e acompanhando pela imprensa o alarde em torno desta grande festa, acho de bom alvitre fazer algumas colocações, e, creiam, não estou magoado, chateado, recalcado, nada disto, apenas fazer algumas recomendações. A Expointer, não é apenas uma feira de negócio, ela é uma feira expositiva, ou seja, expõe outros artigos que não necessariamente bois, vacas, galinhas, cabras, touros e máquinas. Por isto mesmo é visitada pelo povo em geral. Este povo, estas pessoas, pagam para adentrar ao parque, querem conhecer novidades, divertirem-se. Neste contexto, estão às pessoas com deficiências, dificuldades de locomoção, idosos, os quais também têm as mesmas vontades e desejos. Seria muito importante que os tais carrinhos usados apenas para o transporte de ditas “autoridades” servissem também este outro público, que afinal de contas, precisam muito mais do que alguns garotões sadios e moças com trajes mínimos desfilando de um lado para o outro. Ou então, quem sabe antes de servirem a estas autoridades se peça a eles alguma prova, algum documento, que comprovem serem eles autoridades e o que os fazem diferentes dos demais freqüentadores do parque. Afinal, se existe dinheiro para fazer mega hair em cola de éguas, será que não haverá também para disponibilizar este tipo de facilidade a quem precisa? Isto também é discriminação. Quem não sente, não reclama. Quem sente, não encontra eco para mudar a situação.

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