segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estrêla do Pago




Nos tempos da Sapucaia do Sul,ainda menina, sem maldades,sem banditismos, era normal que modismos fossem pouco a pouco sendo inseridos no contexto e na vida dos moradores. As opções para lazer, e divertimentos quase que se restringiam ao cinema, as reuniões dançantes, aos pique niques na zona rural, ao futebol, e, eventualmente as corridas de carros,( As famosas carreteiras de Catarino Andreata, Julio Andreata, José Azmus )cujo trajeto incluiam o centro da cidade. Estes carros, da época, eram envenenados, devidamente preparados, e eram lançados em corridas que partiam de Caxias, via BR 116, entravam pelo centro de São Leopoldo, pegavam a velha faixa do mato de eucaliptos,seguiam pela Av. Sapucaia, atravessavam a passagem da Viação Férrea, seguiam pela N.Srª. da Conceição, tomavam a estrada dos Ritter, a sumiam em direção a Porto Alegre. O curioso nestas corridas é de que não contavam os espectadores com nenhum tipo de segurança, os carros passavam em alta velocidade, a poucos metros da assistencia, e muitas vezes ao cruzarem os trilhos dos trens, davam um "salto" saindo em zigue zagues.. Apesar disto nunca houve registro de acidentes. Nesta época, estavam em alta os grupos de folclore, principalmente motivados pelos desfiles do dia sete de setembro, o centro de tradições começavam a invadir as cidades. Em Sapucaia não foi diferente, já existia o CTG Domadores do Rincão, onde o Osvaldo, e o Alfeu davam aulas de sapateado, e um novo grupo foi criado, O Centro de Tradições Gaúchas Estrêla do Pago, onde a patroa, a dona, diretora, acordeonista , coreógrafa era a mesma pessoa a Srtª. Delfina Miranda. Mesmo sendo uma espécie de associação, o GTG pertencia totalmente a ela, e seus familiares. Os integrantes da invernada artística, eram como contribuintes. Luizinho,Jaí,Delfina,Marilene, José,Luiz,Ivon,Negrinha,Warlene,Verinha,Ubiraci,Ubirajara,Maria,Getúlio,José Amandio, Neni, e muitos outros mais dos quais não recordo o nome. Fazíamos nossas apresentações em diversos municípios, aqui da redondeza. As que mais apreciávamos eram as apresentações em Taquara. Íamos de trem, e as vezes era preciso dormir no próprio vagão, para esperar a volta a Sapucaia. Uma das mais pitorescas "viagens" que o nosso grupo participou, foi a de uma homenagem a ser prestada a um tio, do colega Ubirajara, que morava em Guaiba.Segundo o convite (repassado pelo Ubirajara) nós teríamos um churrasco, na recepção, alem de podermos contar com todas as regalias da "fazenda" do tio dele. Na época havia em Sapucaia um pequeno ônibus (especie de lotação) era velho, apertado,sem ventilação, com janelinhas pequenas, apenas uma porta. Na verdade era uma ratoeira. Mas, a vontade homenagear o tio do amigo era maior e decidimos enfrentar o desafio.Agora imagine a cena: Todo mundo pilchado, botas, bombachas,tirador de couro, guaiaca,boleadeiras,lenço e chapeu, isto para os homens. Já as prendas a vestimenta constava de vestido longo,saia,calçolas e sapatilhas. Todo este aparato empilhado dentro de poucos metros de espaço, sentados (os que conseguiram lugar)em bancos toscos e sem nenhum conforto, sob um sol de verão,comendo poeira, seguindo daqui até Guaiba. Finalmente, depois de horas fritando, gemendo, se acotovelando, suados, avistamos a entrada da "fazenda", uma porteira de madeira, trancada com cadeado, não se via uma viva alma no lugar, e o pior, não parecia morar ninguem ali. Buzinaços,palmas,gritos, chamado pelo nome, e eis que surge la no fundo um cidadão, caminhando calmamente, com um palheiro fumegando na boca. Chegou perto,encarou o "sobrinho" e a "irmã", e quando soube que aquilo era uma "surpresa" pelo aniversário, simplesmente deu uma risadinha matreira e disse: O que? voces acham que vou alimentar toda esta tropa de vagabundos? Não mesmo, podem arrumar outro canto, virou as costas e sumiu. Eram quase trinta bobocas, se entreolhando, e não sabendo o que fazer. Para piorar ainda mais, como se tratava de uma trihla que levava até a morada não tinha como o carro manobrar e sair de frente,assim, todos a pé,e o carro de marcha a ré até a estrada. Nosso CTG teve vida útil muito curta, a dona casou, os demais integrantes foram saindo, até sua completa extinção. Voce deve ter ficado pensando no que foi feito com o Ubirajara, não é mesmo ? Depois do fiasco, nunca mais apareceu nos ensaios, muitos anos depois encontrei o Ubirajara , no balcão da CEEE, onde eu trabalhava( tinha sido cortada a sua luz) exigindo a religação imediata. Estava todo paramentado, ali ,dizia ele, era o "pai Xangô". Mesmo assim, com todo o respeito, disse a ele que primeiro mostrasse a conta quitada, senão o Pai Xangô iria dormir ia ficar no escuro. Uma espécie de vingança tardia entendem?

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