sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Avanços ou atrazos?

PROCURO.
Quando ainda era menino, morava e São Leopoldo, seguidamente via minha mãe lendo cartas enviadas de minha avó, que morava com quase a maioria dos parentes, em Santa Catarina. Invariavelmente as cartas começavam sempre com o mesmo estilo, uma espécie de ritual; minha querida filha,estimo que ao receberes esta pequena carta estejam todos muito bem, nó aqui,da mesma forma estamos todos bem,graças a Deus.Seguia-se então as notícias de tios,primos,irmãs bem como das coisas mais interessantes que haviam acontecido. E como era bom, a gente ficar no aguardo da cartinha,depois responder quase sempre da mesma forma,cuidando na caligrafia para não passar nada sem entendimento.Aquele pequeno pedaço de papel era o elo entre pessoas,entre parentes,amigos continha muitas das vezes um bálsamo para a saudade de pessoas separadas pela distância. Um pedaço de papel que continha calor, amor,com a escrita muitas das vezes quase ilegível e que a gente guardava a sete chaves e gostava de reler a cada estocada da saudade. Certa vez, isto já na minha mocidade, havia na Radio Itaí de Porto Alegre um programa chamado “Clube dos Namorados” onde os ouvintes enviavam cartas solicitando musicas ao mesmo tempo em que pediam correspondentes para troca de cartas e fotos. Sempre gostei de escrever, e tenho ainda hoje muita facilidade para montar acrósticos, o que na época era a febre. Resolvi então envia minha carta, prometendo a cada uma das correspondentes um acróstico com o nome completo e ainda uma foto (a foto de formando) que havia sido elogiada por todos os colegas como a que havia ficado mais bonita. Passada uma semana, depois de ter ido ao ar o pedido, fui a Agencia do Correio, que ficava ali numa velha casa na ponta do calçadão, eram duas senhoras que cuidavam. Quando disse o nome elas se entreolharam e me entregaram um saco, cheio de cartas, eram mais de duzentas cartas, todas com poesias, e fotos das interessadas em corresponder-se comigo. A cada semana era mais e mais, perdi a conta de quantas foram, guardei todas em uma grande mala, catalogadas por nome em ordem alfabética. Num álbum as fotos com as poesias, respondia a todas foram muitos acrósticos, muitas juras de amor,muito amor correspondido a distância, cartas perfumadas,desenhadas,com flores,em papel especial. Destas, uma que nunca esqueci, vinha de Uruguaiana de uma moça chamada Irma Mara da Rocha Alberti, letras desenhadas, papel perfumado, e totalmente ilustrado com desenhos carinhosos e juras de amor. Uma noite um temporal muito feio arrebentou o telhado do local onde guardava as cartas, perdi todo o meu precioso guardado. De todas conheci pessoalmente apenas uma de Cachoeira do Sul, Marli Reni Richardt, uma moça loira que cada carta tinha no mínimo sete ou oito folhas de caderno. Mesmo tendo perdido muitas das cartas recebidas ainda continuei a receber e enviar poesias, e sempre a mesma foto, perdi a conta das cópias feitas.Fico pensando se isto estivesse acontecendo hoje, seria muitíssimo mais fácil, bastaria clicar nas teclas do smart, enviar fotos,falar ao vivo ou quem sabe pelas páginas sociais. Mas,tem uma coisa que a tecnologia jamais vai nos garantir, o perfume,o carinho de uma lembrança enviada com muito amor,com dedicação, com palavras rabiscadas até erroneamente ,mas que a gente sentia terem sido escritas com o coração.Se alguém que estiver lendo, este texto conhecer ou tiver conhecido alguma desta duas moças aqui citadas,por favor gostaria muito de voltar a falar com elas. Seria emoção demais para este velho coração de poeta.

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