sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Prova de vida


Recebi, um convite para comparecer a agência bancária onde recebo minha aposentadoria,  motivo segundo a voz no outro lado da linha era para resolver alguns problemas com a minha conta, conta que aliás, recebe apenas a aposentadoria e mais nada. Cheguei na hora combinada,ou seja, onze horas. E lá fiquei a porta enquanto uma fila interminável ia se formando. O horário de abertura teve que ser prolongado por conta do carro da transportadora de valores, um guarda armado e com a mão na pistola a porta do banco, outro com uma calibre doze também com dedo no gatilho, mais um que sai do carro com uma pequena sacola e mais um revolver na mão. Todo mundo de olho arregalado. As onze passaram para onze e trinta,depois a fila começa a ser engolida lentamente, a porta tranca,é uma senhora com um guarda chuva;
- Pendure o guarda chuva senhora.
- O quê?
- Pendura o guarda chuva ali.
- Pendurar onde?
- Ali no prato.
-Onde é que o senhor está vendo um prato?
- Pendura aqui. ( o guarda já encheu o saco)
A fila continua estática.
A revista continua em passo de cágado, é bolsinha, celular, pulseira, chaveiro, escova de cabelo, pente, brincos, anéis não passa nada. Ao meio dia já estou dentro da agência, agora pego uma senha para ser atendido pela moça da mesa, meu número é noventa, olhei para o visualizador de chamadas, está no setenta e três. A coisa vai ser demorada. Assim foi, enfim sou chamado, muito gentil a moça pede os documentos e segue uma série de perguntas, nome completo, como se pronuncia seu sobrenome? Afinal é Jai ou Jair? Nenhum nem outro é Jaí com sílaba forte no I (sorriso amarelo) . Endereço confirma? Sim.  Data de Nascimento? A mesma ainda. Telefone? O mesmo cadastrado. Tem celular? Sim. Número? Tal e tal. Tudo bem, agora o Sr. Passe no caixa para fazer a prova de vida,sabe o que é né? Sim, sei. Foi justamente ai que porca torceu o rabo, num cubículo de quatro metros de largura, por cinco ou seis de comprimento se acotovelam duas filas, uma dos caixas normais e a outra aquela reservada aos inservíveis (velhos), grávidas  e portadores de deficiências. A coisa se mistura, tem velho entrando errado na fila comum, e outros (novos) usando a fila dos velhos. Chegou então um cidadão (idoso) com um chapéu de abas largas, pilchado, que mais se parecia com um metaleiro tantas eram as fivelas e penduricalhos de metal pendurados nas roupas, perguntou onde era o fim da fila, mostrei a ele . Foi então que pegou o chapéu e “marcou o lugar” colocando-o no chão enquanto foi sentar-se num banco, e ainda lascou; quero ver quem vai ter o peito de mexer neste chapéu. Nestas alturas já são Doze e trinta, só lembrando que cheguei as onze horas. E ainda devem ter uns dez ou mais a minha frente. Daí tentei um golpe, continuei na fila dos “velhos” enquanto minha esposa ia para a outra “normal’ aquela que chegasse primeiro no caixa eu me enfiava.O tempo passou e já estava na ponta da chamada (da fila normal) quando o gaudério lembrou do chapéu que não havia mudado de lugar, daí o homem subiu no poste de brabo; Como é que é este chapéu não anda? Alguém falou, mas não foi você mesmo que disse para ninguém mexer nele? Ele está lá no fim da fila ainda. Finalmente estou no caixa.Sua identidade e o seu cartão da conta, ele olhou a minha cara,olhou a carteira, e lascou; esta carteira de identidade não vale mais. Posso saber o porquê? Os dados são meus,a foto é minha, a única coisa ai que não combina são os cabelos que ficaram pelo caminho, mas o resto sou eu sim senhor. O cara ficou meio intrigado e disse; acontece que agora todas as identidades devem ser trocadas com foto atual, assinatura também. Nestas alturas, treze e trinta, eu já começava a sentir uma pequena pressão nos ouvidos e algumas palavras não tanto publicáveis tomavam conta do meu cérebro. O funcionário, parece ter adivinhado que estava se armando temporal com nuvens pesadas sobre nos e resolveu aceitar. Finalmente ele aperta o dedo numa tecla e começa a sair de uma maquininha um pequeno pedaço de papel. Ele entrega o papel para mim e lasca; Tudo certo ai está a prova de que o Sr. Ainda está vivo. Exultei; MULHER, AMIGOS, VELHARADA EU CONTINUO VIVO GENTE EU ESTOU VIVO, o Homem aqui acabou de dar a notícia. Ufa, treze e quarenta e oito, vou para casa finalmente, mas, VIVO. 

Nenhum comentário: