terça-feira, 3 de dezembro de 2013

As tagarelas.



Elas fazem parte de uma turma muito alegre, divertidas, eu diria que até mesmo poderiam ser consideradas irmãs. Desde o tempo de convivência no local de trabalho gostavam do bate papo ao final do expediente quando deixavam as rusgas de lado e iam todas confraternizar no ponto  de encontro ali na Rua Grande. Aquilo era uma espécie de religião. Entre uma cervejinha, um picadinho, uma azeitona, lá pelas tantas aparecia sobre a mesa um mostruário e um livrinho de vendas destes produtos xaropes que oferecem brincos, pulseiras anéis, cremes anti tudo, que mulher insiste em comprar. Daí a algazarra fica maior ainda, o bando de tagarelas se agita, esticam braços, puxam orelhas, fazem pose, perguntam umas as outras se ficou bem, se combinou. A algazarra é semelhante a de um bando de caturritas, aqueles pássaros que fazem uma gritaria quando se juntam nos galhos das árvores. O momento é sagrado, não se fala em serviço, ali muito embora se encontrem chefes e chefiadas ninguém tem reclamação de nada. Lá, dentro do escritório até pode aparecer àquela vontade a jogar o grampeador na cabeça de alguém, ou quem sabe retirar a peruca recém comprada, mas, ali não. Agora, muito embora reduzida a turminha continua a encontrar-se como que para um culto. Uma mesa, um mostruário, um livro de produtos, mas com uma diferença, todas procuram um produto que apague as marcas do tempo, as malditas rugas, as infames das celulites. E, vamos combinar o arsenal de produtos oferecidos bem como os resultados, são de fazer inveja a qualquer santo, pois são verdadeiros milagres. Se antes o papo era sobre casamentos, noivados, paqueras fofocas sobre os colegas de trabalho agora as conversas tomam um novo sentido. Os bordados, as mantas, os enxovais para os netos, as façanhas dos maridos que se acham galãs de novelas, e, e claro, as críticas as novelas. Umas defendendo as frescuras do Felix, outras querendo queimar viva a Aline, outras ainda achando que a Suzana Vieira deveria estar fazendo papel de trisavó e não de mocinha. Outro dia, estava passeando pela Independência quando dei de cara com uma ex-colega de serviço, entre os costumeiros cumprimentos vêm os tradicionais beijinhos. Muito embora seja apenas um encostar de rostos, resolvi dar de verdade um beijinho no rosto, parecia um rosto de boneca, tão liso, tão rosado. Beijei. Ao afastar-me, senti um gosto de pó, de gordura, nos lábios. Fiquei na minha. Nem comentei que no rosto de minha amiga ficou a marca profunda dos meus beiços. Tudo em nome da discrição e do respeito. Afinal, minha idosa amiga merece. Um terno beijo a todas vocês. 

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