domingo, 29 de dezembro de 2013

Esqueceram de mim



Foi durante o Natal de 2011. Foi exatamente nesta época que mamãe apresentou os primeiros sinais de uma doença que seria sua eterna companheira. Começara a esquecer coisas simples, as mãos tremiam, tinha dificuldade para conciliar alguns pensamentos, começou a exigir mais cuidados. Mamãe estava com o temível Mal de Parkinson. Todos então concordaram, ela tinha que ser tratada dignamente, com profissionais competentes, num lugar onde tivesse atendimento vinte e quatro horas do bom e do melhor. E foi assim, logo depois daquele Natal no ano de 2011 que mamãe foi internada num lar para idosos. O tempo passou, a doença piorou o quadro, e ela foi mantida por lá, afinal neste mundo conturbado de hoje ficaria muito difícil, quase que impossível alguém poder dedicar todas as horas do dia para cuidar da mamãe. Natal de 2013, a família resolve então fazer uma grande festa,uma surpresa,montariam uma linda árvore, e ali bem próximo a árvore, colocar uma confortável cadeira, toda cheia de almofadas, era ali que mamães ficaria. Afinal passara todos os dias desde seu internamento sem uma visita sequer. Filhos, netos, noras, e genros davam uma “passadinha” de vez em quando para saber notícias, coisa rápida. Mas hoje seria diferente, ela seria o centro das atenções, poderia desfrutar de momentos maravilhosos, inesquecíveis ali, junto a toda a família. Quando finalmente o carro chegou, foi uma festa, carregada no colo foi gentilmente acomodada na poltrona a sua disposição, ali ela podia acompanhar, ainda que com as vistas toldadas pela catarata a movimentação de todos em torno da mesa para a ceia de Natal. De vez em quando alguém chegava bem juntinho, e tirava uma foto, dava um beijinho e desejava um Natal cheio de saúde e um novo ano com muitas alegrias. Todos a mesa, abraços, beijos, confraternização, troca de presentes e mamãe observava a tudo com um leve sorriso nos lábios, na mesinha a seu lado um copo com guaraná, e um canudinho, alguma guloseimas que sequer foram tocadas, pois o descontrole das mãos a impediam. A alegria era muita, todos querendo abrir os presentes , ninguém lembrou da mamãe, ali jogada na cadeira de luxo, afinal a festa também era para ela, dois anos inteiros sem uma visita sequer,um beijo,um carinho, e mesmo ali, entre tantos parentes, ainda assim lhe faltava alguém que estendesse a mão. Cerrou os olhos  deixou que as lembranças boas lhe tomassem conta dos pensamentos, sorria como que parecendo reviver, o casamento,os nascimento dos filhos, dos netos, os cuidados com eles, as preocupações, a morte do marido, a doença que lhe proibiu de tantas coisas boas, aquele filme ficou passando enquanto sua cabeça pendia lentamente,mamãe adormecera, nem mesmo o barulho dos fogos,os abraços,as fotos que todos teimavam em tirar junto a ela foram capazes de acordá-la.O que ninguém imaginava, e só muito depois foram constatar, é que mamãe havia partido para uma nova vida, talvez o bom velhinho resolvera,justamente no momento mais importante para ela, buscá-la para que afinal passasse um Natal diferente,cheio de amor,que lhe faltara aqui entre os seus,e talvez uma nova vida, sem dores,sem tremores,sem esquecimentos, lá ela não seria um estorvo. E assim ficou com o mesmo sorriso no rosto.
REFLEXÃO.
Esta é uma “estória” é ficção, mas, pergunto; quantos casos destes vocês conhecem? Tenho certeza de que muitos. Portanto amigo, aproveite enquanto você tem aqui na terra contigo esta santa, sua mãe, seu pai, alguém que tenha lhe dispensado amor. Faça em vida tudo o que puder para provar o amor que eles merecem. Chorar ,escabelar-se, reclamar da sorte não vai trazer de volta aquele bem que você recebeu,não soube resguardar e que por isto mesmo DEUS busco para si.  

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