segunda-feira, 26 de maio de 2014

Bandido.


A mulher magra, cabelos desgrenhados, rosto sem maquiagem, com silenciosas lágrimas escorrendo pelo rosto magro, e sulcado de rugas, está ali, sentada no solo. No colo abraça o corpo inerte e ensangüentado do filho atingido que foi pelas balas trocadas com a polícia. Corpo magro, cabelo raspado, braços finos, chinelo de dedos, da cabeça escorre um filete de sangue que vai se juntar a outros ferimentos formando uma poça vermelha, rubra, no chão. A mulher não chora, nem parece desesperada, olha para aquele rosto magro, sofrido que agora parece estar em paz. Pela cabeça passam imagens daquele menino travesso que gostava de estudar, que jogava taco com os amigos da rua,que gostava de trocar figurinhas.Era um menino doce,amável, um tanto quanto tímido, e de saúde fragilizada.Era assim até o dia em que um estranho dele aproximou-se a porta da escola e lhe ofereceu algo que parecia farinha,pediu que cheirasse,que era bom e que gostaria. Ele experimentou. Foi o começo do pesadelo. No início meio que disfarçado, depois algumas coisas que sumiam de dentro de casa, o comportamento arredio, respostas grosseiras, violentas, as queixas dos vizinhos sobre pequenos furtos, as idas e vindas de conselheiros tutelares, aconselhamentos de psicólogos, até que um dia aconteceu o pior, a agressão a mãe, e a quebra de alguns objetos dentro de casa. A falta da droga já era flagrante, o mal se consumava veio uma internação na FASE. Ali, junto a outros menores infratores foi seu aprimoramento, do contato com  os outros internos surgiu a idéia de assaltar,roubar para manter o vício. Numa tarde enquanto a mãe o visitava, conseguiu escapar junto ao movimento de visitantes, lá fora se juntou a outros, e tornou-se “chefe” gostava de exibir-se, mostrar uma pistola, disparar a esmo para amedrontar os parceiros.Tomou prazer pela rotina.Agora jazia ali inerte acomodado no colo da mãe que olhava para as pessoas em volta, todas com olhares raivosos, não demonstravam piedade, era um bandido a menos. Para ela, era o seu nenê, o menino que tantas vezes embalara, tantas preocupações para com a saúde. Para ela não era um bandido que ali estava caído, era seu filho. Ao lado do corpo a pistola ainda suja de sangue, o seu pequeno troféu, a ferramenta com a qual pensava poder conquistar poder, dinheiro, fama.  A mãe já não reconhecia o rosto duro e frio daquele filho que lhe deu tantas aflições, ali com o rosto deitado em seu colo voltava a ser o menino bom, de feições calmas e tranquilas. Para ela tudo aquilo era um pesadelo, era triste demais, o coração apertava, as lágrimas corriam, mas no fundo se resignava; porquê acabar assim filho?Por quê? 

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