sexta-feira, 30 de maio de 2014

O pavilhão


Cheguei exatamente no horário programado para visitas. A portaria do hospital estava cheia de pessoas umas sorridentes outras não tanto, sacos com frutas, biscoitos, alguma peças de roupa. Mas haviam também rostos carregados, tristes, preocupados. Finalmente o porteiro abre as portas permitindo as pessoas adentrarem ao recinto. Como sei onde está o  paciente a quem venho visitar, sigo em adiante. A minha frente uma placa diz; pavilhão 03, um nome um tanto esquisito em se tratando de uma enfermaria de hospital, mas, tudo bem. Percorro com o olhar o cenário, confesso ser nada agradável. Num espaço de não mais do que quarenta metros quadrados estão alinhados mais de vinte  leitos, todos ocupados. Um cheiro insuportável, uma mistura de urina, fezes, formol, roupas sujas. Vislumbro meu amigo sentado na cama, veste um avental de cor parda, aparentemente só aquilo. O olhar perdido vagueia pelo recinto até me encontrar, esboça um arremedo de sorriso, e abana levemente a mão. Está ali para tratar de uma tosse intermitente, herança que os milhares de cigarros fumados deixaram para ele. Está com uma cor feia, magro, abatido. Na cama ao lado um senhor de idade, parece dormir o único sinal vital é o movimento quase imperceptível do peito, numa respiração que eu diria mínima. Instintivamente volto meus olhos para as demais camas e a visão é estarrecedora, têm de tudo, membros amputados, feridas enormes expostas, cortes de cirurgia ainda sangrando, abertos, pessoas gemendo, outras fazendo suas refeições ali naquele ambiente totalmente desfavorável. Noto a presença de um jovem de jaleco, tem pendente do pescoço esfigmomanometro chega até o doente pergunta algo, anota numa planilha e segue em frente. Durante o tempo em que o observei não tocou uma vez em nenhum paciente, não auscultou uma única vez o pulmão, os batimentos cardíacos a pressão arterial, coisas corriqueiras e usuais, mesmo que para um estagiário. Perguntei se aquilo era procedimento padrão, e obtive como resposta um leve sorriso de deboche. Saí dali me questionando se realmente as pessoas que ali estão acreditam estar ali a cura para os seu males? Será que é possível isto acontecer num ambiente que mistura doentes terminais, com pacientes saídos recém de uma cirurgia, com leitos sujos, aquele ar fétido, irrespirável para quem tem saúde, imagine para um doente? Instalações pessimamente conservadas somem-se a tudo isto médicos adeptos da tal “olhadinha milagrosa” com máscaras no rosto, luvas cirúrgicas e que mesmo assim nem tocam no doente. Tive uma idéia; que tal criarmos a copa da saúde? Daí, talvez tenhamos atendimento padrão FIFA.

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