sexta-feira, 9 de maio de 2014

Bodas de vidro.


                                        Delmar e Beatriz
Onze de Maio de mil novecentos e cinqüenta e seis, numa ensolarada tarde no pé do altar da pequena igreja de Santo Antonio em Portão, Delmar e Beatriz aguardam ansiosos o início da cerimônia religiosa, que vai unir seus corações. Familiares e convidados testemunham o acontecimento. Uma união que perduraria por muitos e muitos anos. Hoje, onze de Maio de dois mil e quatorze, cinqüenta e oito anos depois, Delmar não vai poder abraçar a companheira de tantas jornadas, não vai poder renovar as promessas feitas há muitos anos passados. Beatriz não está ao seu lado. Beatriz desapareceu durante uma viagem, uma das tantas que o casal fazia. Os olhos do Seu Delmar não cansam de olhar para as fotos do casamento, dos filhos, dos muitos e bons momentos vividos em companhia da esposa. Esta é a rotina impiedosa de alguém que teve arrancada de seu convívio a companheira inseparável de tantos anos. Naquele distante vinte e um de outubro de dois mil e doze, enquanto ele comprava algumas lembranças lá no Santuário de Aparecida em São Paulo, D. Beatriz o aguardava junto a porta. Em questão de segundos desapareceu da vista ,perdeu-se na multidão. A partir de então começou um verdadeiro pesadelo, autoridades políticas, polícia, amigos e parentes se lançaram numa busca diuturna por pistas que levassem ao paradeiro de D. Beatriz, procura que já se estende por quase dois anos, e que até agora não apresentou nada de novidade. Vivemos numa sociedade imediatista, as coisas vão acontecendo, o tempo passando, as atitudes mudando. O próprio comportamento das pessoas vai aos poucos se acomodando. Poucos são os relacionamentos que ultrapassam dez anos, a família como célula mater da sociedade vai aos poucos sendo sufocada, e talvez por isto, poucas são as pessoas que se sensibilizam com o fato de um relacionamento de tantos anos, haver sido interrompido de forma tão dramática. É por isto que seu Delmar, não aceita esta acomodação de nossas autoridades, esta falta de iniciativa, esta dormência nas investigações. Aquele amor que habitava os corações de Beatriz e Delmar, no dia de seu casamento ainda existe, talvez muito mais forte agora pela dor da distância, pela incerteza do futuro, pela saudade. Seu Delmar não consegue acreditar na justiça do país, para o qual dedicou tantos e tantos anos de trabalho, ele não consegue entender como isto pode acontecer num país que se diz preparado para sediar uma Copa do Mundo, mas, que trata com tanto desrespeito um ser humano. Investem-se milhões na construção de estádios, aeroportos, elevadas, túneis, mas não se investe em tecnologia para evitar que casos como o de D. Beatriz continuem a acontecer, ou pelo menos que se criem condições que propiciem uma investigação mais técnica, mias objetiva, mais capaz.  O fato acontecido com D. Beatriz não é único, muitas são as pessoas que somem no dia a dia, muitas das quais, para nunca mais aparecer. Seu Delmar não perdeu as esperanças, ele acredita na volta de sua Beatriz, para quem sabe, na mesma igreja, junto aos filhos, familiares e amigos renovar todos aqueles votos feitos a cinqüenta e oito anos atrás. 

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