segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A Baiúca

Este é o nome carinhoso pelo qual se conhece o antigo prédio do antigo Ginásio de Sapucaia.A idéia de criar um ginásio para os estudantes de Sapucaia surgiu numa bela manhã de domingo quando na calçada em frente ao Cinema Marabá se encontraram os Srs. professor Pedro Reinaldo Scottá e o vereador Pedro Martins. Ná época eramos ainda sétimo distrito de São Leopoldo. Mas já pensavamos em independencia. Finalmente em 14 de novembro de 1961, o nosso saudoso governador Leonel Brizola criava o município de Sapucaia, coincidentemente, foi ele quem oficializou mais tarde, o Ginasio de Sapucaia. Tudo bem, o ginásio já existia, agora é procurar o lugar para funcionar. foram cedidas por emprestimo alumas salas do Grupo Escolar da Vila Silva, atual Escola Maria Medianeira. A construção, chamada na época de "brizoletas" pois acompanhavam o projeto original de milhares de escolas implantadas por Leonel Brizola pelo interior do RGS, era de madeira, mas já a estas alturas apresentavam desgaste, salas deterioradas, mal conservadas, enfim, por este motivo recebeu, numa roda de amigos e em tom de brincadeira, deste redator, o nome carinhoso de BAIÚCA. A primeira turma de alunos da baiúca (vide foto em artigo anterior) bem como as demais que se foram seguindo, puseram a mão na massa, literalmente. Fundamos o Grêmio Estudantil Castro Alves (GECA) do qual fui presidente. Era como um pé de apoio a todas as urgências que o novo ginásio apresentava.Ali se trabalhava mesmo, sem interferencia do "político". Falta de material, de professores,compra do material de secretaria, tintas para o mimeógrafo( a álcool), matrizes, para as provas, tudo era buscado por iniciativa de professores e o GECA engajados. Criamos um Grupo de teatro, formado por alunos das diversas salas. Nós mesmo, alunos e professoere redigíamos os "esquetes" selecionavamos os "atores" e partiamos para o espetáculo. De início usávamos a estrutura da própria sala de aula que permitia a abertura de uma parede divisoria, transformando-se num salão com maior capacidade. Ali, demonstravamos nossas habilidades,cantando,contando casos,anedotas, mentiras, enfim, valia tudo, para arrecadar uns trocos para a Baiúca. Tudo era motivo de comemoração, dia das mães,dos pais, dos avós, o negocio era faturar.Como as coisas evoluiram, passou-se a pensar em um novo local. Buscamos o Sr. Edegar, dono do "Cine Marabá" e conseguimos o local sempre que tivesse data vaga. Aumentou a receita. Muitos foram os namoros acontecidos ali na báiúca,naquele tempo não haviam exageros, nem em drogas muito menos nas bebidas, os relacionamentos entre estudantes eram coisas até ingenuas, o sexo não era liberal como agora, as moças eram mais recatadas. Existiam até aquelas "musas"disputadas por alunos, que faziam de tudo por um matinée ou por uma reunião no Sete de Setembro. Eu particularmente, tinha verdadeira adoração pro uma aluna da minha turma (não era só eu)ela era apaixonada pelo professor de biologia (professor Carlos Fossati) isto de certa forma me dava vantagem, pois sabia desenhar muitíssimo bem, então nas aulas de biologia, sempre o caderno dela acabava nas minhas mãos para que eu desenhasse aquelas coisas de biologia, aranhas,pernas,braços,lombrigas,vermes, coliformes,amebas. Em tudo eu punha o máximo de atenção, para mim eram obras de arte e os cadernos dignos de uma biblioteca. Mas era tudo sonho. A musa acabou casando com outro, vive feliz com a familia e somos amigos até hoje. Talvez, so agora lendo estas linhas vá descobrir que os desenhos na verdade estavam carregados de "terceiras intençõs". Mas, o colegio evoluiu, aumentou o número de alunos, e a comissão de professores, os alunos comandados pelo GECA, desencadeou uma "Campanha das garrafas, e jornais velhos", queriamos começar a construção do novo prédio. Era como um exercito de formigas, vinham garrafas e jornais de todos os lados. Chegou a ponto de "abarrotarmos" o velho porão.E os primeiros tijolos sairam do chão. A despedida da Baiúca, aconteceu com a nossa formatura (41N) no Cinema Marabá. Foi o acontecimento mais lindo, do qual participei em minha juventude. Uma festa simples,humilde,linda,alunos e alunas como só se vêem em filmes, da época, um a um os alunos recebendo seu dilpoma das mãos do diretor Professor Lothar Sommer, e do paraninfo Prefeito Arno Juliano, uma caneta luxo (para aquela época). Depois, um baile de formandos no Clube Comercial. O antigo prédio da Baiúca já não existe, muitos dos alunos da 41 N também partiram os "sobreviventes" se desagruparam. Confesso que tentei,sem sucesso buscar reagrupar os antigos alunos da Baiúca para de tempos em tempos confraternizarmos, mas o sonho acabou por ingerencia da maldita política. Nem mesmo os quadros das primeiras turmas formadas no ginasio foram respeitados, na época, o professor João Colombo Filho, mandou estocá-los num porão do novo prédio, ali, deteriorados pelo mofo, e pela humidade, acabaram sendo destruídos por um incendio cujas causas nunca foram exclarecidas. As lembranças, as glorias deste passado tão bonito ainda perduram na memoria dos poucos sobreviventes. A Baiúca ficou na saudade, hoje é Escola de 1º Gráu Maria Medianeira, o antigo Ginasio Estadual de Sapucaia, transformou-se em Colégio Estadual de Sapucaia mais tarde para Colegio Estadual Rubèm Dario atualmente Instituto de Educação Rubèm Dario. Tenho certeza de que para mim, tanto quanto para os ex-alunos ainda vivos, o nome pomposo esconde na verdade a velha BAIÚCA, que passou por cirurgia plástica, e devidamente siliconada.
Próximo capítulo: O morro de Sapucaia.

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