domingo, 9 de janeiro de 2011

Cine Marabá.

Por volta dos idos de 1950,Sapucaia do Sul, (Guianuba, conforme os mapas da RFF-RS) contava com uma sala que exibia filmes. Não era propriamente um cinema, mas, uma sala situada no prédio do Bar e Abrigo, junto a praça General Freitas.Por este mesmo tempo, veio residir na cidade um empresário de nome Edegar Helmuth Gergke, que começou a construção daquele que seria o primeiro prédio, destinado a um cinema. Com proporções bem avantajadas, para a cidade, que praticamente era reduzida a uma faixa de cimento que servia como elo de ligação entre os vários municípios. O novo cinema foi projetado e construído respeitando então novas tendencias,o piso levemente inclinado no sentido da tela de projeção, evitava que o espectador sentado a frente de outro não tivesse sua visão "tapada" por outro eventualmente mais alto. Também, muito comum na época, os casais de namorados, depois do "apagar da luzes" costumavam ficar de rostinho colado, o que, ocasionava um pequeno problema. Também as poltronas,tinham os assentos flexionáveis, permitindo que o espectador sentado, facilitasse a passagem para que outro ocupasse um lugar vago na plateia, com aproximadamente 600 lugares, o único inconveniente era o calor(depois suavizado com ventiladores de parede) que fazia no interior do prédio, pois para evitar ao máximo a claridade nas sessões de matinée, aos domingos, contava com poucas aberturas. O primeiro filme exibido no Cine Marabá, foi um clássico da época, O dia em que a terra parou. Em matéria de impacto, seria mais ou menos assim como O parque dos dinossauros. Foram três sessões com direito a formação de grandes filas na bilheteria, que aliás era comandada pela esposa do proprietário D. Vanda.Nesta época dois prédios foram erguidos quase que ao mesmo tempo, O cinema Marabá e a Farmácia Santo Antônio, do "seu Mário". O prédio da farmácia ficava no outro lado da rua, este ainda existente. Na grande área calçada que ficava em frente ao cinema, costumavam permanecer as pessoas, os casais de namorados, ou os frequentadores do Bar Marabá, anexo ao cinema. Também era grande o movimento em frente aos grandes cartazes que anunciavam os filmes da semana inteira. Para os jovens da época, faziam sucesso os flimes "seriados" tal como as novelas de hoje, já o público adulto preferia os clássicos bíblicos, Sansão e Dalila,O Manto Sagrado,Os dez mandamentos,Demetrius o gladiador. Mas, sem dúvida alguma nenhum deste filmes estrangeiros era capaz de bater com as produções nacionais, (em público)os filmes produzidos por Mazaropi, Casinha pequenina,Jeca Tatú,Jeca o cangaceiro, e tantos outros. Também as chanchadas produzidas por Herbert Richers, pela Atlantida causavam delírios nas mocinhas de então pois traziam muitas vezes a cena os galãs das radionovelas, costumava retratar os carnavais cariocas (com as primeiras peladonas) e algumas cenas mais sensuais. Já os Filmes de Mazaroppi, retratavam a vida do caboclo pobre do interior do Brasil, cativava pelo linguajar simples,carregado de trejeitos e sotaque caipira. A construção do Cinema Marabá, foi um acontecimento sem igual para o desenvolvimento e divulgação da cultura no município. Foi ali, no palco do inesquecível Marabá, que aconteceram vários espetáculos (noites culturais) protagonizados por estudantes da BAIÚCA (Escola Maria Medianeira) os quais buscavam angariar fundos para a construção de um novo prédio para o ginásio, (hoje Instituto Rúbem Dário). Foi ali, naquele palco que a primeira turma de formandos (1964) recebeu o seu diploma das mãos do diretor Prof. Lothar Somer, com os cumprimentos do paraninfo Sr. Arno Juliano,prefeio de Sapucaia na época O prédio do Cine Marabá, que poderia ter sido tombado, pelo município, assim como outros tradicionais sucumbiram pela voracidade dos modernismos, sua arquitetura simples (mas arrojada para a época) com o nome impresso em relevo na fachada, foi demolido, dando lugar a mais um deste templos religiosos. Uma pena, aliás, Sapucaia do Sul contemporâneo não tem nenhum prédio histórico tombado, ou restaurado,não tem museu, não tem hotel, não tem teatro. Povo sem memória,sem historia, e sem interesse em preservação, será sempre isto que é, ou seja, mais um entre tantos.

Próximo capítulo: A BAIÚCA, seus alunos, seus problemas, suas historias.

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