As águas límpidas do córrego lá no alto da serra,aos poucos vão ganhando novos microafluentes, que saem das matas. Vagarosamente escorrem pelas pedras, pela vegetação típica da Serra do Mar,até tomarem ares de um riacho calmo, cujas águas seguem em direção a planície. Mas, ao tomarem formas mais agressivas,já como um caudaloso rio que banha as cidades do vale, o Sinos começa a receber uma carga de dejetos, esgotos sem tratamento, restos de cortumes, enfim tudo isto acaba por transforma-lo num grande manacial de sujeira. É dali que se recolhe, a água para apos vários processos de limpeza e purificação ser colocada à nossa mesa. Porém o Rio dos Sinos não era assim. Lembro-me muito bem de minha mãe,lavadeira,ajoelhada as margens do rio, lavando as roupas dos então estudantes do Seminário dos Jesuitas. Pagavam centavos por peças de roupa lavada. Era um ganho pobre e muitas vezes até de sacrifício, tal a sujeira com a qual se deparava. Nós, os filhos, ficavamos sentados com a água pela cintura, pés mergulhados nás águas tão claras e límpidas que se podiam ver pequenos cardumes de lambarís a beliscar nossos dedos. Após a lavagem da roupa, subiamos a barranca, em direção a casa. À tarde, na volta do trabahlo, meu pai buscava dois ou tres baldes de água e colocava na "tina" especie de reservatório de barro, era de onde se tirava água para todas as tarefas, desde o banho até para ser sorvida, diretamente, sem nenhum processo de limpeza ou purificação. E nunca, nenhuma daquelas crianças se preocupava com microbios,com envenenamentos, ou algo parecido. A água era limpa por natureza. A parte dos Sinos, que corta Sapucaia, começou a sofrer com a vinda para o municípios da Siderúrgica Rio Grandense,e as granjas de arroz pois como os processos de usinagem de materiais, exigiam resfriamento á água servida era largada diretamente no leito do rio.Assim como os venenos das lavouras. Até então era possível pescar todos os tipos de peixe. Jundiás,bagres,pintados,brancas,lambarís,, e até grandes dourados. Costumávamos acampar nas margens do Rio do Sinos, e ficar ali pescando e comendo na hora. dificilmente era feita uma "fieira" para trazer para casa. Hoje, comer um peixe que tenha saido dos sinos, pode ser considerado um perigo, prova disto são as "mortandades" de centenas,milhares de especies que seguidamente são noticiadas. A irresponsabilidade, da população, aliada a desonestidade e ganancia de alguns empresários, acabou por transformar o antigo rio num caudaloso manancial de esgotos. De nada valem os bilhões de reais investidos em obras de saneamento se o principal agente modificador do meio ambiente não sentir-se motivado a modificar seu hábitos, seus costumes. As gerações de hoje tem a responsabilidade de preservar as fontes naturais de recursos, para a posteridade. Hoje, já existem locais no planeta onde não há nenhuma possibilidade de encontrar água. Aos poucos os manaciais vão secando, sendo poluidos, exigindo mais e mais produtos quimicos, venenos. Nós, cobaias vamos ingenuamente bebendo, pagando, e sofrendo cada vez mais com doenças, pragas e sofrimentos. Nossas vidas vão pouco a pouco ficando mais e mais frágeis. e dependentes de novas drogas. A falta de alimentos talvez seja o primeiro sintoma, depois será á falta de água, depois? Depois o caos.
Próximo capítulo.
A vida social de Sapucaia nos anos 50
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