quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


Greves.
Na vida, existem momentos em que a gente tem reações as quais muitas das vezes jamais passaria não fosse a exigência daquela atitude específica, naquela hora.Durante o mandato do Governador Alceu Colares( 1991-1994) o grande objetivo da massa eletricitária do Rio Grande do Sul eram , alem das reposições dos níveis de inflação (aumento real não existia) era a implantação do QPOC – Quadro de pessoa organizado em carreiras – antiga reivindicação  da categoria, implantada num dos nossos vário acordos coletivos de trabalho, após muitos e muitos encontros, diálogos mobilizações. Acontece que o governador era categórico, no seu governo ele não0 implantaria nada, pois (como sempre acontece) não havia dinheiro em caixa. Foram várias greves. Em muitas tive participação efetiva como Delegado presidente, e diretor do Senergisul em São Leopoldo. 

Nossa delegacia respondia por vários municípios: Esteio, Sapucaia do Sul,São Leopoldo,Portão,São Sebastião do Caí,e Feliz. Em todos estes locais haviam os representantes (delegados setoriais)mas, todas as determinações vinda de Porto Alegre passavam pela delegacia, e depois eram repassada imediatamente a todas as agências. Por conseguinte, era minha, a total responsabilidade por qualquer ato( fora dos padrões normais de atendimento) praticado por qualquer funcionário, nestas delegacias. Nossa sede (que saudade) ficava ali no fim da Rua São Caetano, (1095) .Hoje segundo informações, pertence a uma fábrica de moveis. Pois bem, estávamos em plena greve geral, alem das reposições, pedíamos a imediata implantação do nosso quadro de carreira e a adesão era total. Numa greve destas dimensões,quando realizada em setores e serviços tidos como essenciais, ela é muito perigosa. 

Existem sempre os radicais, aqueles que não se contentam em prazos e diálogos e partem para atitudes mais drásticas, retaliações, enfim coisas do gênero. Isto na maioria das vezes é usado pelos patrões, como motivos para a declaração de greve abusiva, desnecessária, podendo causar sérios problemas para com a categoria. Foi numa destas noites de greve, das muitas, passadas ali na sala do plantão de emergência que acontece o fato que mais marcou a minha vida e, por conseguinte ,a minha formação como líder sindical e representante de uma classe. Em épocas de greve, jamais ficávamos dentro dos próprios (prédios) da empresa. Montávamos uma lona, sobre o passeio, ou canteiros que existiam em frente ao prédio da Gerencia Regional de São Leopoldo, e ali permanecíamos, ali ficava o QG do comando de greve. Mas, numa tarde, nuvens negras cobriram os céus leopoldense , o expediente já havia sido encerrado,no plantão apenas uma dupla (um carro com dois funcionários) porém, com a determinação de apenas tirar o perigo, ou seja, atenderíamos apenas fios rebentados, ou ramais de ligação no chão, e nada mais. 

A religação de pontos eventualmente sem tensão, seriam atendidas pela ordem de chegada.Na sala da emergência estavam o Paulinho (operador de rádio e telefonia) o Carlinhos( Carlos Petersen – chefe técnico) e eu ,como delegado e no comando das operações do que poderia ser ou não religado. A Rua 1º de Março na quadra em frente a gerencia da CEEE, havia se transformado num rio,a água atingira os degraus da escada da sala de plantão. O vento, fazia voar placas de propaganda, galhos de árvores, papelão, sacolas plásticas, latinha, garrafas um inferno. De repente entra um telefonema de alguém avisando de que a placa de uma tradicional Pizzaria da Rua Independência havia voado para cima das redes e causado um “estrondo” estavam sem luz. A dupla de plantão, foi até ao local, retirou o perigo imediato, e retornou a gerencia. Este era o procedimento padrão. Só, que ainda durante a chuvarada, e ventania apareceu na janela, um cidadão identificando-se como segurança da casa do prefeito( na época Olímpio Albretch), exigindo a religação imediata da residência do prefeito. 

O Carlinhos, apenas fez um sinal com a cabeça indicando a minha direção – O cara então parecia cuspir fogo – O senhor ouviu o que eu falei? O prefeito está sem energia na casa dele. – Eu sei, mas não é só ele, tem muito mais gente sem luz. – Tá e daí? – Ora, daí que vão continuar sem luz, sua ordem de serviço foi retirada, vai entrar numa fila de espera, e só depois vai ser restabelecida. É isto ai.  – O Senhor sabe por acaso com quem o Sr. Está falando? – Sim. – E então? – Então nada mais, é aguardar o amanhecer. Senti tanta raiva na cara do indivíduo, que se ele pudesse, me matava. Rodou nos calcanhares, e voltou com a reposta para o se. Prefeito. Meia hora depois o próprio prefeito apareceu, em carne e osso, queria falar com o responsável. Fui até a janela. – Quero falar com teu chefe – Eu sou o chefe Sr. Prefeito. – O quê? Você sabe com quem está falando ? – Sim. Olha, vou te dizer mais, lá na casa das bombas na Vicentina ( Vila Vicentina) a água esta tomando conta das casas, pois as bombas de drenagem estão todas desativadas por falta de energia.

Escute bem, seu Jaí, se algumas daquelas crianças molhar os pés, por causa da água que está invadindo o local eu venho com a polícia, te retiro preso e te largo no Central. O Sr. entendeu ? – Perfeitamente, mas não vou ligar equipamento algum. Agora, ilustre prefeito, fique ciente de algo mais importante. Vá até o juiz, o delegado, o promotor, fale com quem quiser, eu sou o responsável, e assumo, estou me lixando para o senhor, e suas ameaças. Fique sabendo que se realmente eu for preso, ficaremos juntos na cela, pois as bombas alegadas aqui pelo Sr. Estão fora de operação por total desleixo, falta de manutenção, e perigo de causarem curto circuito, por isto elas foram desligadas, a pedido da própria prefeitura. Que vergonha, tentar usar deste artifício para poder terá religação de sua luz. Já disse, amanhã de acordo com  a ordem de entrada sua reclamação vais ser atendida, e ponto final. Efetivamente, no outro dia eram mais de 18 horas quando a equipe solucionou o problema. Não deu cadeia, não deu punição (não era de competência dele) e ainda recebemos(Comando de greve) um ofício, agradecendo a presteza no atendimento e ainda pedindo ao governador que desse especial atenção aos nossos pedidos.

Como da para perceber, sou bico duro desde ha muito. Aprendi a lidar com metidos a besta desde cedo. Naquele feito o prefeito "abriu as pernas"

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