segunda-feira, 10 de março de 2014

O Zé e o senador.


O Zé é um aposentado, vive com a mulher, e mais uma neta, numa pequena casa onde cultiva um horta caseira, com meia dúzia de pés de couve,algumas alfaces,temperinho verde, e uma velha laranjeira que já nem tem mais força para produzir nada.Pois o Zé,estava limpando suas hortaliças quando sentiu uma ”tonteira maluca”. Como já faz tratamento para a pressão, e outras encrencas a mulher resolveu levá-lo ao médico, num destes postinhos de saúde na cidade. Chegaram, explicaram o caso, e  ficaram aguardando.  O médico já o atenderia. Enquanto isto, há milhares de quilômetros dali, num plenário cheio de luzes, homens ilustres, mulheres chiques, debates acalorados, cochichos ao pé do ouvido, o senador Fulgêncio (nome fictício) sentiu um leve desconforto estomacal. Levantou-se, foi até sua sala, e prontamente acionou seu plano de saúde. O médico de plantão imediatamente isolou a área, deu telefonemas rápidos. Imediatamente uma ambulância estacionou junto as garagens, coisa de primeiríssimo mundo, equipado com UTI, equipe médica qualificada, cardiógrafo, balão de oxigênio, aparelho de desfibrilação ventricular, tudo do mais moderno.O bólido salva vidas cortou as avenidas da capital, só parando frente a emergência do hospital. Ali, outra equipe não menos aparelhada já esperava o paciente. Foi encaminhado para uma suíte, reservada, colocado no leito enquanto uma bateria de exames era providenciada. O Zé? Bem o Zé continuava de pé, aguardando o médico que vai atendê-lo, agora além da tontura o peito começava a arder, um aperto, um formigamento nos braços. Alertada a enfermeira deu-lhe um copo de água. Dr. Fulgencio, agora já mais a vontade atendia, através de seu assessor, a imprensa que havia acorrido ao local, falava de seus projetos, referentes a saúde do povo. Finda a entrevista, uma equipe de especialistas especialmente convocadas faria alguns exames. Foi notificado que já havia um pequeno jato com UTI móvel preparado para decolar imediatamente caso fosse necessária sua transferência para outro centro de especialidades. Nosso amigo o Zé, agora havia sido posto numa velha cadeira de rodas para ficar mais confortável, o médico o examinaria em seguida. As dores aumentavam. Dr. Fulgêncio, foi transferido para um quarto, os exames não haviam detectado nada de anormal deveria repousar até a tarde quando então seria feita nova checagem, e ,se tudo estivesse de acordo poderia voltar para casa. O Zé, não teve a mesma sorte, o infarto chegou antes que o plantonista pudesse dar “uma olhadinha”. Morreu sem que ao menos alguém examinasse seu estado, justamente ele de cujos bolsos saia uma pequena parcela para que o  Dr.Fulgêncio, tivesse a sua disposição um exército de salva vidas.

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