terça-feira, 21 de outubro de 2008

Amor que mata

Amor que mata.
*Jaí Strapazzon
Depois de quase uma semana de suspense, negociações, medos e incertezas, chega ao fim o seqüestro da jovem, que era tida como refém por seu namorado, o qual, presumivelmente tentava uma reconciliação. De um lado entre quatro paredes, um maníaco, desequilibrado emocionalmente, e duas adolescentes pegas de surpresa quando estudavam. Do outro, a polícia com seus negociadores apostando que a qualquer momento toda aquela confusão tivesse um desfecho feliz.
Mas, o final não foi feliz. A jovem Eloá, ferida por dois tiros, um deles mortal, não resistiu e morreu. Não quero prejulgar, nem mesmo apontar erros, mas como brasileiro, chefe de família e alguém que se reocupa com os altos índices de violência que atingem nosso país, tenho sim o dever de fazer uma análise de como interpreto toda esta situação, que nos põe a todos de sobressalto, pois nunca se sabe quem será a próxima vítima.
É comum nestes acontecimentos, serem chamados a dar seu palpite, os mais diversos profissionais, psicólogos, terapeutas, policiais, juízes, advogados, a até mesmo gente que treina esquadrões, tidos com de elite, em outros países. Não pertenço a nenhum destes grupos, mas pelo menos nas páginas do meu bloger tenho o direito de manifestar também a minha opinião. Neste triste episódio tiveram sim muitos culpados, o principal sem nenhuma contestação é Lindemberg.
A polícia, e a mídia também têm sua parte de culpa. Num acontecimento como estes, onde um maníaco tem em seu poder uma vítima, só se admite duas forças para negociação, o seqüestrador e a polícia, e mais ninguém. Não existe, isto mesmo não existe negociador preparado para enfrentar situações deste tipo, pode até haver alguém dotado de paciência, e vontade de manter o diálogo, ainda mais como neste caso onde o rapaz não desejava nenhum tipo de recompensa, nem mesmo buscava a reconciliação, ou seja, tudo dependia da conversa e das agressões, sofridas seguidamente pela vítima.
Ora, coloque-se no lugar do bandido, que tem todos os canais de televisão a entrevista-lo, um negociador que lhe faz todas as vontades, uma platéia de curiosos capaz de vara a madrugada, com os olhos fixos na janela, interpretando cada gesto, cada sinal, cada aceno, e o pior, permita-se a este bandido o contato via telefone com toda a mídia, inclusive para entrevistas ao vivo. Daí a perguntar: Que motivos teria este rapaz de interromper o seqüestro, entregar-se? Naquele momento ele era o mocinho, sua refém era o seu ex amor, e daquele tragicômico ato ele era o autor, diretor e principal protagonista, então encerrar por que.
Foi uma semana, de conversas intermináveis, de agonia, cheia de lances dramáticos, para no final tudo acabar na maneira como acabou, uma jovem morta, outra gravemente ferida, e uma família que vai conviver com a dor e o sofrimento. O culpado, segundo o que se lê, não está arrependido, está indiferente, isto para mim significa que aquele desfecho já era programado, quando adentrou naquele apartamento ele já sabia o que iria fazer, e nem mesmo o melhor negociador, nem mesmo os mais fortes argumentos o fariam mudar de idéia. Estar ali, mesmo com todo aquele aparato, com toda aquela pressão representava muito para ele. Este rapaz tinha certeza absoluta de que o final daquela situação triste seria certamente o final de um sonho, ainda que um tanto quanto conturbado, mas, um sonho.
Não foi o primeiro caso, nem será o último. O cérebro humano esta maravilhosa máquina, que comanda nosso corpo, está sujeita a falhas, capazes de misturar dois sentimentos tão distintos como o amor e o ódio, infelizmente neste, como em outros casos, o primeiro não resistiu a força do segundo.

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