segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Mulher biônica

Mulher biônica.
Tenho, desde os tempos de ginásio, uma amiga que não via há muito tempo. Casualmente, estava passando pelo centro de São Leopoldo quando deparei com duas elegantes senhoras sentadas numa destas mesinhas, postas nas calçadas, e que servem para atrapalhar mais a vida da gente. Mas, como ia dizendo, a medida que ia ma aproximando o rosto de uma delas me parecia muito familiar. Nestas ocasiões é sempre bom manter um mínimo de discrição para não se correr o risco de ser confundido com um velho tarado.
Fui me aproximando e não foi nem preciso falar, uma delas olhou fixamente pra mim e disse: Olha só quem está aqui, o Jaí. Bem, agora a coisa muda de figura, já não sou um intruso, fui reconhecido, mas, na verdade não lembrava mais nada, muito menos o nome. Lembra de mim? Tu não mudaste nada (a velha e piedosa mentira), vem senta aqui vamos lembrar as coisas boas. Acomodei a bengala de um lado, sentei e com um sorriso amarelado dei inicio ao diálogo: Você está muito bem, nem lembra aquela menina magricela, a quem tantas vezes dei cola, mas diga o que anda fazendo? Na verdade não faço nada alem de gozar a vida, estou aposentada, filhos criados, agora a vida se resume a baile, viagens,teatro,cinema com as amigas e os amigos. Na verdade, enquanto o papo fluía, eu me mordia de curiosidade. Aquela figura ali a minha frente não se parecia em nada com a antiga colega dos tempos de ginásio. Era magra, não tinha seios, muito menos glúteos, os cabelos eram loiros arrepiados, pernas finas, quase cambotas. Ela era realmente uma menina feia.
Agora eu estava a frente de uma senhora bonita, cabelos negros, peito estufado, corpo muito bem preparado, glúteos muito bem desenhados, cintura fina, boca sem nenhum traço de rugas, o rosto mais parecendo com o de uma boneca de louça. Ela pareceu ler os meus pensamentos, deu uma piscada de olhos para a amiga e sentenciou: Que tal a transformação? Dizer o quê? Só balbuciei, sensacional, você está maravilhosa. Nem se parece com a magricela da sala de aula que não consegui namorado (risos). Isto foi naquele tempo, querido, agora os tempos são outros. Agora a tecnologia pode nos reformar, consertar, melhorar tudo aquilo com o que a gente não concorda.Tudo o que faltava,na silhueta,próteses dentárias,peito,bunda,cochas,lábios,cílios, lentes de contato,peruca,unhas postiças, botox nos lábios, preenchimento de rugas, e até tatuagens para modernizar. Eu ouvia tudo com uma cara de bobo, eu não tinha nada para dizer, eu envelheci, estou com rugas, careca, faltam dentes, eu realmente estava ignorando o arsenal de artifícios que a medicina põe ao nosso alcance.
Voltei para a casa com uma estranha sensação, uma dúvida não saia da minha cabeça; Será que aquela voz era dela? Será que ela não estava sendo manobrada por controle remoto? Só podia ser isto. Aquela mulher era totalmente biônica.

Nenhum comentário: