quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Uma homenagem



Quero render uma  homenagem .  Mas é uma coisa diferente, para pessoas diferentes, pessoas com as quais vivi alguns dos primeiros anos de minha vida estudantil , mas,  que representaram muito em toda a minha existência. Cursei o quarto e o quinto ano do ensino primário, no colégio São Luiz em São Leopoldo. Ficava situado ali na Rua Bento Gonçalves esquina com João Neves da Fontoura e era administrado pelo padres Maristas. Da ordem do Beato Marcelino Champagnat. Minha primeira impressão não foi das melhores, me parecia um colégio para filhos de pais ricos,eu filho de um mecânico e uma lavadeira estava me sentindo um estranho no ninho. Ganhei uma bolsa de semi-internato, ou seja, ia pela manhã e só voltava pela tardinha. O quadro de professores naquela época era todo ele formado por irmãos Maristas. O rigor no aprendizado era extremo. Além das matérias curriculares tínhamos ainda Inglês, Frances, Latim. 

A rotina diária começava ao entrarmos na sala de aula, sempre no dia anterior era escolhido aquele aluno que “pucharia “ a primeira dezena do terço, incluindo os mistérios (gozosos ou dolorosos), e tudo tinha que estar na ponta da língua, sem tropeços, sem falhas,e muito menos nervosismo.Qualquer erro e o faltoso era remetido para a o gabinete do diretor, na época Irmão Maurício Luciano. Havia sempre um professor que era o regente da classe, no caso o nosso era o Irmão Marcos, professor de português. Mas, como todo o colégio que se preza tinha também o carrasco, aquele que era tido como o terror dos alunos. Naquele tempo não tinha estas frescuras do professor não pode isto, ou não deve aquilo. O professor tinha que ser respeitado ou senão o castigo comia solto. Nosso carrasco era o Irmão Leônidas. Alto,magro,pouco cabelo, olhos penetrantes,nariz adunco e óculos de grau, era um cara feio, metia medo só de olhar.Era capaz de descobrir uma mentira no ato, e a gente não podia, e muito pensava e engana-lo.

Certa vez, numa aula de suas aulas de inglês ele estava de costas escrevendo no quadro de exercícios, havia um grupinho que murmurava no fundo da sala. De repente ele vira-se e joga uma barra da giz, ela acerta a cabeça justamente de um dos que estavam conversando. Todo mundo emudeceu, o atingido simplesmente levantou, pegou suas coisas e foi direto para a sala do diretor. Ninguém criticou, ninguém deu um pio. Era assim que a coisa acontecia. Na hora do almoço, todos à mesa, mais uma dezena do terço diário. Depois cada um ia recebendo sua porção no prato podia-se ouvir uma mosca voando, tal era o silêncio. Em volta da mesa passava o fiscal do refeitório, observando os gestos, a mastigação, os trejeitos. Qualquer coisa fora dos padrões, e lá vinha uma sapecada com a varinha no ombro, coisas do tipo: feche a boca,não preciso ver o que estás comento, ou então, Mastigue o alimento com a boca fechada,parece um boi ruminando.Lembro de alguns nomes daquele tempo, Gilberto Gherke, Anildo, Antonio  Zilio, Cleo, Astor, Ernesto Plenz Junior, éramos muitos, mas a memória já esta dando mostras de falhar

De outra feita,  eu e o Gilberto chegamos atrasados por conta do ônibus. Nestes casos não entrava na sala de aulas, ia direto explicar para o diretor o motivo do atraso. Caso ele entendesse por bem aceitar a desculpa, tudo bem, caso contrário, (e foi o que aconteceu conosco) a caderneta era carimbada, e o aluno era obrigado a voltar para casa pegar a assinatura dos pais ou responsável e voltar ao colégio, só então, poderia ser aceito em sala de aula. Aconteceu que eu e o Gilberto tivemos que retornar, ou melhor o diretor mandou que voltássemos,só que decidimos dar um volta no diretor. Descemos até a beira do rio dos sinos ali próximo a sede do Clube Nautico Iguaçu, havia um caramanchão muito bonito, com bancos, sombra e ali pegamos uma folha de papel em branco e fomos treinar a caligrafia dos pais. Eu assinaria pelo pai do Gilberto e ele pelo meu pai, daríamos mais um tempo, e voltávamos para a sala de aula. Bem, isto foi o que imaginamos que riria acontecer. Passado o tempo,voltamos novamente e lá estávamos de novo a frente do Irmão Luciano Maurício, ele olhou longamente para as assinaturas,olhou para as nossas caras, e sentenciou; Agora sim agora complicou de vez. Agora vocês irão para a casa, explicarão para os pais o que fizeram, e eles virão aqui conversar comigo. Se isto não acontecer exatamente assim, não precisam mais aparecer no colégio. 

E, apesar da tantas dificuldades, em locomover-me,hoje ainda agradeço pelo rigidez na disciplina,nas orações,nos exemplos recebidos. Foram aquelas exigências todas que moldaram o meu caráter. Fizeram-me um homem de verdade..  

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