Velho ou idoso?
Resolvi, por estes dias, fazer algo que não fazia há muitos anos, andar de ônibus. Depois de certo tempo de espera, eis que surge minha condução, e com ela a primeira dificuldade, embarcar. Não é tarefa fácil para quem tem apenas apoio de uma perna, e forças em um braço. Mas, a persistência é mais forte e de repente lá estou eu, devidamente acomodado num banco. Em poucos minutos o carro lotou. Começou então aquele tradicional empurra, encosta, esfrega, cutuca, cotoveladas na cabeça e o pior, aquele cheiro que é uma mistura de tudo, que você não consegue definir, sé é chulé,asa,desodorante vencido,arrotos,cigarro até mesmo a falta de higiene naquelas partes destacadas no imaginário popular como íntimas. Para piorar a situação, uma senhora idosa tenta ocupar o assento ao meu lado, está bem acima do peso, com uma bolsa cheia de tralhas, suja, fedendo. Larga-se por sobre mim e senta com apenas uma parte das nádegas sobre meu joelho, a outra sobre a bengala, começa então a maldizer a sorte, praguejar. Daí me deparei filosofando sobre a arte de envelhecer; entre ser velho e ser idoso. Mas, será que tem alguma diferença? Em minha opinião, tem, e muitas. Você é velho quando acha que já fez tudo que deveria ter feito, quando se deixa levar pela filosofia de que nada mais há de interessante na vida, quando você olha para o espelho e começa a amaldiçoar suas rugas, suas pálpebras caídas, a fragilidade de seus ossos, as dores que não te dão sossego. O velho é aquilo que não tem mais conserto, não serve para mais nada. Mas então o que é ser idoso? Idoso é viver em paz com tudo aquilo que o rodeia, e entender que todas as experiências vividas podem e deve ser repassadas para os mais jovens. O idoso é aquele que entende que por detrás de uma ruga está uma experiência vivida, que o brilho que falta aos olhos, foi ofuscado por milhões de imagens de todos os tipos, que o andar trôpego nada mais é do que resultado de incessantes buscas pelos objetivos desejados. O idoso pode ter cem anos e sempre será um jovem, o velho pode ter vinte anos e sempre passará a impressão de ter cem. Quer um exemplo prático? Você compara as diferença entre duas cadeiras. Uma com pouquíssimo uso, mas com assento, pernas e costado destruído. A outra uma cadeira do século 18, que foi usada nos grandes castelos, uma obra de arte, seguidamente passa por restaurações, manutenção, conserva-se impecável. Viram? O primeiro objeto é um objeto velho, sem uso. O segundo é um objeto idoso (tem muitos anos), mas se conserva em plena forma, pronto para o uso. Ficou fácil não é mesmo. E daí? Que tipo de cadeira você é?
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