sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013



Velho ou idoso?
Resolvi, por estes dias, fazer algo que não fazia há muitos anos, andar de ônibus. Depois de certo tempo de espera, eis que surge minha condução, e com ela a primeira dificuldade, embarcar. Não é tarefa fácil para quem tem apenas apoio de uma perna, e forças em um braço. Mas, a persistência é mais forte e de repente lá estou eu, devidamente acomodado num banco. Em poucos minutos o carro lotou. Começou então aquele tradicional empurra, encosta, esfrega, cutuca, cotoveladas  na cabeça e o pior, aquele cheiro que é uma mistura de tudo, que você não consegue definir, sé é chulé,asa,desodorante vencido,arrotos,cigarro até mesmo a falta de higiene naquelas partes destacadas no imaginário popular como íntimas. Para piorar a situação, uma senhora idosa tenta ocupar o assento ao meu lado, está bem acima do peso, com uma bolsa cheia de tralhas, suja, fedendo. Larga-se por sobre mim e senta com apenas uma parte das nádegas sobre meu joelho, a outra sobre a bengala, começa então a maldizer a sorte, praguejar. Daí me deparei filosofando sobre a arte de envelhecer; entre ser velho e ser idoso. Mas, será que tem alguma diferença? Em minha opinião, tem, e muitas. Você é velho quando acha que já fez tudo que deveria ter feito, quando se deixa levar pela filosofia de que nada mais há de interessante na vida, quando você olha para o espelho e começa a amaldiçoar suas rugas, suas pálpebras caídas, a fragilidade de seus ossos, as dores que não te dão sossego. O velho é aquilo que não tem mais conserto, não serve para mais nada. Mas então o que é ser idoso? Idoso é viver em paz com tudo aquilo que o rodeia, e entender que todas as experiências vividas podem e deve ser repassadas para os mais jovens. O idoso é aquele que entende que por detrás de uma ruga está uma experiência vivida, que o brilho que falta aos olhos, foi ofuscado por milhões de imagens de todos os tipos, que o andar trôpego nada mais é do que resultado de incessantes buscas pelos objetivos desejados. O idoso pode ter cem anos e sempre será um jovem, o velho pode ter vinte anos e sempre passará a impressão de ter cem. Quer um exemplo prático? Você compara as diferença entre duas cadeiras. Uma com pouquíssimo uso, mas com assento, pernas e costado destruído. A outra uma cadeira do século 18, que foi usada nos grandes castelos, uma obra de arte, seguidamente passa por restaurações, manutenção, conserva-se impecável. Viram? O primeiro objeto é um objeto velho, sem uso. O segundo é um objeto idoso (tem muitos anos), mas se conserva em plena forma, pronto para o uso. Ficou fácil não é mesmo. E daí? Que tipo de cadeira você é?


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