Quando era menino, não existia
esta tal de caminhada cívica. O que existia eram os Desfiles do dia sete de
setembro. E, que coisa mais bonita. Ainda tenho algumas fotos daquele tempo de
ouro. Costumávamos desfilar pela Avenida Sapucaia, o palanque ficava no espaço
em frente a praça General Freitas, assim como a maior concentração de pessoas.
Aquilo era um momento especial, para todos, moradores, alunos professores,
comercio, entidades sociais, todos comungávamos dos mesmos ideais. Todos
queriam mostrar o seu amor pela pátria. Nós alunos fazíamos questão de mostrar
guarda-pós engomados, alvos, gravata azul, calça frisada, sapatos pretos, cada
um fiscalizando o outro para não dar vexame, cada um querendo ser melhor do que
outro. A preparação era feita por partes. Primeiro era a banda que começava a
ensaiar o toque característico, depois, dentro do pátio da escola (Colégio da
D. Sibila) a gente se virava como podia para treinar os passos que deveriam ser
levados para a avenida. Parece difícil acreditar, mas já naquela época a gente
fazia certo mistério sobre o que iria apresentar. Lembro de uma vez, agora já
aluno da Baiúca (Escola Maria Medianeira) fiquei encarregado de produzir a
nossa principal alegoria. Era uma época em que se comemorava muito o envio do
homem a lua, então nada melhor do que “construir um foguete espacial, o qual
seria “tripulado por uma colega (Janete) devidamente caracterizada de
astronauta. Primeiro arrumamos um reboque, depois partimos para as madeiras,
depois para os papelões, e por último, centenas de folhas de papel alumínio
para recobrir a invenção. Materiais a disposição, então mãos a obra. Uma
parafernália de pregos, arames, percevejos, cola, cordões, e eis que surge
imponente o nosso foguete. Foi lindo ver a colega com a roupa toda em papel
alumínio, confeccionada por sua mãe, parada ao lado da geringonça, para o
ensaio, ainda no pátio da minha casa, onde havia sido montado. Tudo ensejava um
estrondoso sucesso. Mas, durante a noite, São Pedro inventou de mandar uma
amostra de aguaceiro, daquelas com a qual ele havia iniciado o dilúvio. A
expectativa se transformou em desilusão ao amanhecer do dia do desfile. Nosso
foguete havia se transformado num esqueleto de madeira com as vísceras
expostas. Mesmo sem nosso foguete, fomos para a avenida, afinal nossa
astronauta estava lá garbosa desfilando. A gente sentia orgulho ao olhar para o
palanque e notar os olhares, e receber os aplausos das autoridades. Hoje,
quanta decepção, quanta indiferença, a gente olha e só enxerga rostos fechados,
caras antipáticas, sorrisos disfarçados. Gente metida, querendo aparecer.
terça-feira, 10 de setembro de 2013
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