terça-feira, 10 de setembro de 2013

Caminhada cívica.



Quando era menino, não existia esta tal de caminhada cívica. O que existia eram os Desfiles do dia sete de setembro. E, que coisa mais bonita. Ainda tenho algumas fotos daquele tempo de ouro. Costumávamos desfilar pela Avenida Sapucaia, o palanque ficava no espaço em frente a praça General Freitas, assim como a maior concentração de pessoas. Aquilo era um momento especial, para todos, moradores, alunos professores, comercio, entidades sociais, todos comungávamos dos mesmos ideais. Todos queriam mostrar o seu amor pela pátria. Nós alunos fazíamos questão de mostrar guarda-pós engomados, alvos, gravata azul, calça frisada, sapatos pretos, cada um fiscalizando o outro para não dar vexame, cada um querendo ser melhor do que outro. A preparação era feita por partes. Primeiro era a banda que começava a ensaiar o toque característico, depois, dentro do pátio da escola (Colégio da D. Sibila) a gente se virava como podia para treinar os passos que deveriam ser levados para a avenida. Parece difícil acreditar, mas já naquela época a gente fazia certo mistério sobre o que iria apresentar. Lembro de uma vez, agora já aluno da Baiúca (Escola Maria Medianeira) fiquei encarregado de produzir a nossa principal alegoria. Era uma época em que se comemorava muito o envio do homem a lua, então nada melhor do que “construir um foguete espacial, o qual seria “tripulado por uma colega (Janete) devidamente caracterizada de astronauta. Primeiro arrumamos um reboque, depois partimos para as madeiras, depois para os papelões, e por último, centenas de folhas de papel alumínio para recobrir a invenção. Materiais a disposição, então mãos a obra. Uma parafernália de pregos, arames, percevejos, cola, cordões, e eis que surge imponente o nosso foguete. Foi lindo ver a colega com a roupa toda em papel alumínio, confeccionada por sua mãe, parada ao lado da geringonça, para o ensaio, ainda no pátio da minha casa, onde havia sido montado. Tudo ensejava um estrondoso sucesso. Mas, durante a noite, São Pedro inventou de mandar uma amostra de aguaceiro, daquelas com a qual ele havia iniciado o dilúvio. A expectativa se transformou em desilusão ao amanhecer do dia do desfile. Nosso foguete havia se transformado num esqueleto de madeira com as vísceras expostas. Mesmo sem nosso foguete, fomos para a avenida, afinal nossa astronauta estava lá garbosa desfilando. A gente sentia orgulho ao olhar para o palanque e notar os olhares, e receber os aplausos das autoridades. Hoje, quanta decepção, quanta indiferença, a gente olha e só enxerga rostos fechados, caras antipáticas, sorrisos disfarçados. Gente metida, querendo aparecer.

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