Mensalão.
Tudo o que se falar,tudo o que se disser a
respeito deste julgamento, acredito que não mudará o rumo da história. Por
detrás das cortinas, nas coxias deste magistral espetáculo teatral já está
definido o “gran finale”. Como que numa espécie de provocação, de deboche, de
sarcasmo para com todos os espectadores os vilões deverão sair livres,
decreta-se a morte da justiça, sepulta-se a ética ,a honestidade e todos os
demais anseios de uma sociedade ferida,humilhada.Ficamos, todos nos
,boquiabertos ,pasmos,ao pressentir o desfecho deste rumoroso caso. Ainda soam em
nossos ouvidos as frases empolgadas, os jargões jurídicos, as belas e
ameaçadoras citações dos mestres do direito internacional. Todos, unissonamente
desempenhando o seu papel, de um lado os homens togados em cujos quais, ate
então, se acreditava serem imunes as tentações mundanas. Homens que pelo seu
saber, pela sua índole, pelo seu passado nos levavam a acreditar que os ímpios
desta vez seriam aniquilados. De outro lado, homens não menos inteligentes, advogados
experientes, muitos juízes aposentados, conhecedores de todos os meandros de
nossa justiça remendada, esfarrapada, maltrapilha. Aos primeiros deu-se a
tarefa de estudar, tentar acomodar as acusações dentro de conceitos que
pudessem efetivamente levar a justiça. E, convenhamos teoricamente foram
verdadeiramente aulas de direito não só para platéia formada por estudantes que
viam ali uma oportunidade de aprender com os grandes mestres,mas, a todos nós que fazíamos parte da platéia, por todoso s pontos do país. Já, aos advogados
de defesa competia desmontar tijolo a tijolo a muralha de teses que tentavam
segregar do convívio social os acusados. Tinham estes homens o dever de provar
que o ladrão não roubara o corruptor não corrompera, e que na verdade os réus
ali presentes eram apenas e tão somente homens ingênuos. Foram meses de tortura
para todos os envolvidos, mas, principalmente para o povo que até então,
sedento por justiça, ansioso pelo desfecho, acompanhava cada voto dos doutores da lei.Vieram
condenações. Aplausos de um lado, críticas do outro. Porém, o que na realidade
estava acontecendo era apenas um intervalo naquele tragicômico espetáculo,
havia digladiadores que teriam que ser substituídos, havia direitos que na
teoria, teriam sido olvidados. Era a tábua a qual os náufragos haveriam de
agarrar-se, até porque, ao longe já se avistava o escaler salvador. Costuma-se
dizer que sentença de juiz é para ser cumprida, e não discutida. É verdade, só
que com uma ressalva; isto é para quem pode e não para quem merece ou quer. A
justiça verdadeira, aquela cega e impiedosa custa muito caro. Derrubar teses,
anular teorias exige valores, não interessa a origem destes valores, como
também não interessam os clamores públicos. A ética, a honestidade a decência
todos estes conceitos vão dormir no fundo das gavetas quando o que está em jogo
são interesses escusos, sujos. Fica quase que impossível caminhar pelos porões
da lei com uma toga impecável, quanto tanto lodo está envolvido. Os réus, os
valores, os verdadeiros motivos que levaram esta avalanche de denúncias a
desembocar nas poltronas dos nobres ministros, a história jamais saberá. Os
porquês de alguns ministros mudarem agora seus posicionamentos, seus conceitos,
suas atitudes chegando às raias de se ofenderem em público, estas verdades ao
povo jamais será revelada. Isto porque é preciso ainda que com todas as
suspeitas e dúvidas sobre a nomeação de alguns destes verdadeiros atores
cômicos a imagem do Supremo deve continuar a ser reverenciada, não pode sofrer
arranhões. Agora uma nova fase, um novo ato neste triste desfile teatral. Nossos
ministros do STJ deverão amargar as penas de terem sido reduzidos apenas a
coadjuvantes, a certeza de que seus saberes não são lá estas coisas, pois não
conseguiram alicerçar devidamente os pilares das muralhas atrás das quais
ficariam presos os condenados. Aos ex-condenados a liberdade, ainda que
duvidosa, e aos ilustre defensores desta
quadrilha, sejam creditados os devidos honorários, não importando a origem do
dinheiro que recebem. Ao povo? Ao povo resta apenas baixar a cabeça e limpar o
cuspe que nos foi jogado na cara. Brasil, um rascunho de democracia que dever
ser passado a limpo
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