segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Uma lembrança triste.


Quero dividir com vocês ,seguidores do meu blog e  colegas da CEEE, um momento muito especial, e que marcou profundamente. Todos que me conhecem sabem, que apesar da aparência frágil, e das limitações físicas sempre trabalhei de igual para igual em todas as tarefas a mim concedidas. Quando assumi o SENERGISUL, substituindo o delegado da época, senti um calafrio. Não sou medroso, aliás, não sei o que é ter medo. Sempre fui bicudo, metido. Acredito que com meu trabalho, minha dedicação e o apoio de muitos de vocês conseguimos conquistar trunfos que hoje, permite a muito desfrutarem seus dias de aposentados. O meu dia a dia se resume em pesquisar, pesquisar e escrever. Quando não estou na oficina, trabalhando reformando móveis e eletrodomésticos que chegam até mim, estou escrevendo. Eu já havia saído da delegacia do sindicato, então fui convidado a fazer parte da equipe para elaborar o PDV, uma forma cruel que os idiotas dos americanos usaram para interromper a vida profissional de muitos colegas. Não sei se todos sabem, mas,perdemos colegas que se suicidaram, por conta de terem sido alijados justamente quando estavam a poucos passos de aposentar-se. Nossa base para trabalhos era no Hotel Suarez, ali na São Caetano 273 no centro. Éramos vinte e quatro pessoas, representando todos os locais que pertenciam ao complexo AES/SUL. Pela Gerencia Regional de São Leopoldo era eu e a Tânia e mais o Laércio Miguel Machado do GOMT. Foram dez dias de muita tensão, avanços retrocessos, com gente achando que aqueles ilustres calhordas falando inglês eram deuses, e outra parte com sangue nos olhos de tanta raiva. Eu sequer podia olha na cara do tal Rich, um cara que parecia ter saída de um deste filmes de zonas rurais americana. Magro, franzinho, pouco cabelo. Ele era o GERENTÃO, o todo poderoso, e tinha colegas que até lhe puxavam o saco, achando que assim estariam imunes. Éramos monitorados diariamente pelo “motorista” do chefe. Um cara vindo de Brasília, gordo com uma cara de bêbado, falava inglês fluentemente, aliás, entre eles só falavam em inglês Adorava contar piadas e vivia elogiando as mulheres brasileiras. Um perfeito palhaço. Quando terminamos os trabalhos fomos todos “gentilmente” convidados a fazer uma confraternização, fomos todos para aquela pizzaria próximo a Unisinos.Lá, despesa livre para todos. Podia pedir o que quisesse, tudo por conta do chefe e do seu fiel escudeiro o “motorista”. Na mesa as caras eram de velório, com exceção do “piadista” que teimava em bancar o bobo da corte. Por fim foi solicitado que trouxessem várias caixas de sorvete, a todos foi servido uma taça, era vontade. Fui o único que não aceitou o sorvete. Estava engasgado, a vontade era de mandar aqueles caras idiotas para a puta que os havia parido. A notar que eu era o único que não havia sido servido o Rich, perguntou se tinha problema de saúde em não aceitar açúcar. Vi ali na resposta a ele o meu momento de gloria. Disse que estava muito bem de saúde, mas que gostaria de dirigir algumas palavras, pedindo ao motorista que fizesse a tradução. Então comecei; Companheiro Rich (eles tinham verdadeiro ódio de sindicalista) Falarei apenas por mim, não sou representante de mais ninguém aqui, mas, quero registrar meu repúdio, minha indignação com este ato tão abjeto e hipócrita. Vocês nos obrigam a redigir a nossa sentença de morte e ainda tem o disparate de oferecer doces? Como poderia comer este sorvete? Ele é amargo demais para mim e para tantos outros colegas, me faria mal, muito mal. É como se eu estivesse oferecendo um banquete no dia do meu velório. Ele me olhava, e acompanhava a tradução. Encerrei porque não vinham mais palavras, eu já soluçava. Cheguei em casa e rabisquei num papel o meu desabafo. Nunca mais o esqueci. Antes de sair, sem me despedir, ainda notei que alguns colegas empurravam educadamente a taça para o centro da mesa.  O poderoso chefão apenas olhou nos meus olhos e disse o clássico ; I,m sorry.

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