quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Seca no RS.



Sonho e pesadelo
Todos os dias é a mesma coisa. Nastácia acorda, esfrega os olhos, pés descalços, apanha o balde e faz sua penitência diária: disputar um balde de um líquido avermelhado, numa poça lamacenta, a mais de cinco quilômetros de sua casa, com o gado magro e sedento. Você apenas abre a torneira da sua casa, e aquele líquido limpo e transparente jorra gostoso. Nastácia sabe que o líquido que ela está ingerindo pensando ser água, não passa de um caldo miserável, sujo, poluído, que em última instância, na verdade, encurtará sua existência. Você ao contrário, tem a certeza de que pode beber a vontade, pois a água tratada protege a sua saúde. Duas realidades bastante diferentes, e que nos obriga a uma séria reflexão sobre este bem finito, bem como os cuidados que estamos dispensando para que não sejamos num futuro não muito distante mais uma entre as tantas Nastácias. O homem é o único animal sobre a face da terra que mesmo tendo consciência do risco que corre, desafia a natureza. Mata, destrói, arrasa, envenena, polui até mesmo aquilo que representa uma alternativa para sua própria sobrevivência. Nossa agricultura,representa apenas dez por cento do que produzimos em alimentos, porém, somos responsáveis pelo consumo de mais de vinte por cento de toda a carga de agrotóxicos produzidos no mundo. Nossos rios e nossas matas ciliares, são dizimadas. Rios e córregos vão sendo gradativamente assoreados. Os leitos, aterrados perdem sua profundidade, começam a aparecer os bancos de areia, logo,logo aquilo que antes era um caudaloso manancial de águas, não passa de um filete que serpenteia por entre a terra acumulada. Mas nós ainda podemos abrir as torneiras, por enquanto. Lembro quando guri a água que tomávamos vinha direto do Rio dos Sinos, ali, bem próximo a Olaria dos Dauts. Enquanto minha mãe lavava as roupas, ficávamos sentados à beira da água com milhares de lambaris em volta de nossos pés. Terminada a tarefa, pegávamos dois baldes, direto do rio, e depositávamos na “tina” espécie de moringa grande onde ficava a água para o uso diário. Não havia filtro. Muito menos precisávamos ferver a água para tomá-la. Mesmo assim, nunca se ouviu falar em verminoses, inflamações, diarréias, vômitos ou diarréia. Por quê? O Rio era limpo. Hoje milhares de toneladas de lixo e detritos são lançados diariamente em seu leito. Milhões de reais são atirados fora em programas que buscam modificar um panorama que a cada dia mais nos apavora. Nossos rios estão moribundos. Nossa água está escasseando. Estaremos todos caminhando como Nastácia em direção a uma poça de água suja. Depende unicamente de nós.

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