quarta-feira, 21 de abril de 2010

Vaquinhas..


A vaquinha.

Se fosse aquele bichinho lindo, meigo, pastando livremente pelo gramado, até que seria uma boa idéia gastar todo o tempo do mundo em enaltecer as virtudes, as belezas e a simplicidade da vida no campo.
Mas, não é desta vaquinha que pretendo falar. É de outra, bem menos simpática, que todo mundo aceita, mas que é amaldiçoada por todos aqueles que têm de engoli-la. E como é difícil, parece que quanto menos a gente quer mais ela se faz presente no dia a dia. Seja na repartição pública, onde, aliás, é campeã, seja na iniciativa privada onde por incrível que pareça é incentivada pelas chefias, lá estará ela, sorridente, confiscadora, eterna algoz dos menos privilegiados financeiramente.
Estou falando da famosa vaquinha, instituída como válvula de escape daqueles que pretendem puxar o saco do chefe, mas, não desejam arcar com o ônus monetário. Tem vaquinha para tudo, aniversário, despedida, nascimento do nenê da mulher do chefe, centenário da vovó do gerente, para a compra do papel higiênico, da água mineral, do cafezinho, do absorvente íntimo, do copinho descartável, enfim, tudo aquilo que deveria ser adquirido com verbas próprias, passa a ser responsabilidade desta funcionária fantasma que afinal todos ajudam, mas ninguém ainda viu no emprego.
Ela está tão institucionalizada dentro das empresas que conta até com os guardiões, uma espécie de SPC, basta que o colaborador não entregue no dia e hora marcado a sua contribuição e pronto, lá estará o nome do condenado na lista negra, bem visível para que todos saibam que ali dentro tem alguém disposto a fazer churrasco da pobre coitada da vaquinha. Muito embora, estejam cientes que possam ser processados por constrangimento moral, sempre tem alguém disposto a avacalhar.
Acredito não existir alguém que ainda não tenha sido chamado a “colaborar” com a vaquinha. E o pior que os valores da vaquinha acompanham o ritmo da inflação, segundo as taxas bancárias, logicamente. Antigamente se falava em “Dois reais por cabeça” depois passou para “Cinco reais” e agora a tal vaquinha esta num ritmo tão alucinante que já beira os “Vinte reais por cabeça” o que convenhamos nem as vaquinhas de presépio cobram de cachê para se apresentarem no Natal.
Agora acompanhem esta possibilidade: Num escritório onde trabalhem quinze funcionários, se cobrados os vinte reais, são trezentos reais, daí acontece o seguinte: O chefão está de aniversário, oba, salgadinhos, tortas, refrigerantes, cartão com letras desenhadas, uma agenda personalizada com letras douradas tudo ao contento para agradar, leia-se puxar o saco, sorrisos, fotos abraços, tranqüilidade total. Lá se vão Duzentos e Cinqüenta reais.
No dia seguinte, a “tia” do cafezinho também esta festejando seu aniversário. Ela também participa com o mesmo valor. O encarregado (a) da vaquinha chama um colega e tasca: Dá um pulinho ali no Um e Noventa e Nove e escolhe uma bugiganga qualquer pra Tia.

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