sexta-feira, 8 de março de 2013

Outros tempos



Quando menino, e isto já faz tempo, nesta época de páscoa a gente sabia que por mais difícil a situação de nossa família, meus pais jamais deixaram passar uma páscoa sem que a gente recebesse, no ninho do "coelhinho", algumas balas, alguns bombons,ovos de açúcar, até ovos pintado e recheados com amendoim,  coisas simples, que eles tinham prazer em arrumar depois que a gente adormecia.Um dia antes a gente montava o ninho dentro de uma caixa de papelão,enfeitada com papel crepom, e barba de pau. Em nossa ingenuidade, ficávamos a maior parte do tempo tentando controlar o sono só para poder ouvir os passos do coelho que viria nos presentear. Que coisa boa, que sensação estranha ao levantar pela manhã e ver aqueles ninhos com balas e presentes. Tudo comprado com algumas merrecas de cruzeiro, tostões. Era uma farra, cada guri da vizinhança querendo mostrar o que ganhou, não havia disputa, não havia inveja, éramos todos parceiros da mesma pobreza. Hoje? Hoje não existe mais o espírito da páscoa. As lojas até fazem promoção, compre tudo em DEZ vezes, já pensaram ovinhos e chocolates em dez vezes? Eita coelho bem palhaço este. Hoje já não se presenteia mais com chocolates e balas. Os coelhos modernos optaram todos pela tecnologia, agora é só smartfone, Ipod, tablet, micro, celular, tudo de última geração.Todas estas bugigangas. Eles já não querem mais saber de romantismo, o negócio é faturar, um sapato caro, um vestido, uma bolsa, um anel, um colar, uma pulseira, vale qualquer coisa de valor. Até porque a própria mídia ajuda a desmistificar o espírito da páscoa. É só chegar esta época e as grandes mídias começam a bater em cima das doenças cardiovasculares provocadas pelo consumo de chocolate, pelo aumento de peso, aparecimento da celulite, pelo consumo exagerado do açúcar. Tratam de ridicularizar tanto o pobre do coelho, que ele acaba enfiando o seu pequeno cotó de rabo entre as pernas, e ficar bem quietinho. Experimente perguntar para alguma criança se ele sabe o que representa o recebimento de uma bala, na páscoa, veja se ele sabe o que é que está por traz do simbolismo da figura deste coelho que põe ovos. É assim vamos caminhando, terminando com aquilo que nos remetia a um sentimento de amor, de fraternidade,de humildade. Sendo empurrados cada vez mais para o consumismo exagerado, pela utópica crença de que o importante é ter poder.  Mas, experimente negar algo, ou tentar explicar o sentido da páscoa, logo vem com: Bah, vei ti liga bixo, cal que que é ? Tu piraste? E a gente, sabe como é né? Sorri amarelo, trinca os dentes, e pensa: Piraste é um tabefe nestas tuas fuças piá mal educado.

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