segunda-feira, 25 de março de 2013

Tragédias.



A tragédia da Boate Kiss em Santa Maria( 27/01/2013), parece ter despertado a opinião pública para uma realidade até então ignorada por todos. E, depois de ler tantas reportagens, tantos relatos declarações de policiais, bombeiros, políticos, enfim todos estes personagens, chego a uma conclusão terrível; as mortes, nos chocam, mas, já não nos sensibilizam. E porque chego a esta conclusão, afinal o estado gaúcho praticamente caiu numa convulsão total, com tantas e tão horríveis mortes. Afinal ,uma plêiade de jovens, futuros promissores encontraram seu fim  num ambiente onde, teoricamente deveriam confraternizar. Até então, ninguém havia se dado conta do perigo a que todos os frequentadores daquele inferno estavam sujeitos. Políticos, polícia ,autoridades, gente de todas as classes sociais já haviam confraternizado ali, e nada havia sido detectado. Portas, janelas, exaustores, barras de proteção estava tudo de acordo. Mas, o inesperado aconteceu. O fogo, a fumaça, as tranqueiras, a falta de pessoal habilitado, o somatório disto tudo resultou em 241 mortos. 

Desculpem os mais tímidos, os mais reservados, mas não costumo aceitar hipocrisias, sou contra atos como os desencadeados logo após o infausto acontecimento, a verdadeira caça as bruxas. Autoridades de todos os escalões, políticos de todas siglas,técnicos de todas as partes do mundo agora aparecem para tentar dar uma resposta a familiares, amigos e parentes das vitimas. Mas onde estavam todos vocês antes da tragédia? Onde estavam a polícia, os fiscais, os bombeiros,? Onde estava o Sr. Governador que teve a cara de chorar no velório das vítimas? Onde estavam, ou melhor onde se escondem as autoridades responsáveis pela segurança quando acontecem as passeatas pedindo mais segurança, Onde é que enfiam a cabeça estes políticos que assistem centenas de desfiles de faixa pedindo paz? A morte já não causa mais nenhum impacto em nossas vidas. Sim, é verdade. As mortes havidas naquela tragédia só comoveram tanta gente pelo número exagerado de vítima de uma só vez. E sabem porquê?  

Porque sentimos vergonha de sermos tão relapsos com a aplicação e a fiscalização no cumprimento das leis, mesmo aquelas que podem salvar vidas. Sentimos vergonha de ter que admitir que valorizamos mais um diploma fajuto, a um certificado falso, a um técnico de meia pataca. É muito mais fácil incriminar meia dúzia do que abrir guerra contra um governo irresponsável que não enxerga o sucateamento da máquina da segurança. É muito mais fácil exonerar um comandante, do que olhar-se no espelho e reconhecer a própria culpa. As mortes já não nos sensibilizam, infelizmente. Porquê será que as morte no trânsito que também são milhares,as os assassinatos, as mortes nas filas dos hospitais, os erros médicos, as mortes por falta de medicamentos, não causam um rebuliço? Qual a diferença? Será que o número de mortes tem que necessariamente ser de proporções alarmantes para que autoridades saiam de suas tocas sujas, e venham decidir por investigações? Tenho pena das famílias enlutadas, que acreditam em justiça, Justiça? Que tipo de justiça? Dez anos de cadeia, que cumprido um terço já estarão novamente em liberdade. E os mortos? Porque para eles tem que ser “perpétuo” Quem pagara a conta pelos gastos com investigações, indenizações, até mesmo pela estadia destes supostos responsáveis pelo incêndio? Seremos nós, será o dinheiro público, o dinheiro dos impostos recolhidos, nada sairá dos bolsos de todos os envolvidos. 

A culpa como sempre recairá sobre os músicos, os donos da boate, alguns outros fiscais e só. Os peixes grandes, os verdadeiros responsáveis pela falta de fiscalização, pelo não cumprimento das normas técnicas exigíveis, estes como sempre, ficam sob os holofotes da mídia. Ora, é muito fácil criticar alguém por não ter entrado naquele inferno quando se vive num gabinete com ar refrigerado. Exigir que pessoas agissem como heróis sem equipamentos adequados, com mangueiras velhas e carcomidos, isto também implica em responsabilidade. Ao invés de exonerar o comandante dos bombeiros, exonere-se a si próprio senhor governador. E, quando depararem com alguma passeata pedindo paz, virem a cara, afinal não está dando bolas mesmo. 

Nenhum comentário: