sexta-feira, 19 de abril de 2013

Matinê no Marabá



De segunda a sábado, o trabalho era na horta, e nos serviços caseiros na chácara onde morávamos, mas o Domingo era santo. A missa na igreja matriz, lá no fim da Rua Cel. Serafim Pereira quase esquina  com N.Srª da Conceição, onde seguidamente a gente levava uns cascudos do padre João, por não estar se comportando direito, era sagrada. Não podia faltar, O padre fazia questão de ir até o Grupo Escolar (em frente a praça) passar de sala em sala anotando o nome dos faltantes. A tarde, já com o dever cumprido, era hora de arrumar os gibis, que meu pai trazia aos montes e tocar para a frente do Cine Marabá, fazer trocas e vendas. Geralmente eu não trocava nada, eu ia para vender, já que a Fábrica de Papel e papelão do Justo era como a minha livraria particular. As novidades do rádio, do futebol e das novelas, vinham todas em revistas como Capricho, Revista do Rádio, Manchete, O Cruzeiro,Fatos e Fotos, Contigo, alem é claro de todas as espécies de revistas em quadrinho da época. Eu levava de carrinho de mão, punha a minha banca particular e ali a gente negociava. Como morava a menos de uma quadra do cinema, podia me dar ao luxo de fazer as vendas e depois voltar para assistir a matinê. Geralmente aos domingos pela tarde o programa era duplo, um filme de bang bang e um episodio de um seriado (tipo novelas de hoje)que normalmente acabava com suspense. A gente comprava o bilhete, depois era só escolher o lugar e aguardar. Às vezes apresentavam algumas propagandas, uma novidade, pois apareciam fotos das casas comerciais, de Sapucaia, uma que nunca saiu da minha cabeça era da COMATEL (comércio de materiais elétricos) pelas fotos coloridas que apresentava. Terminadas as propagandas, tocava então o soar de um relógio gigante na tela e a contagem regressiva. Ai vinha os anúncios dos filmes da semana, e finalmente começava o espetáculo. Filmes de mocinho e bandido eram os preferidos pelo seu Edgar, (dono do Marabá) ele sabia que era plateia lotada. Uma coisa interessante que se notava ao entrar na sala de espetáculos era que o chão estava sempre úmido, salpicado de gotas de água. O porquê daquilo. Acontece que normalmente as perseguições do mocinho ao bandido que perseguia a mocinha, eram acompanhadas pelo barulho ensurdecedor dos pés que batiam no chão, numa espécie de torcida, e aquilo levantava uma poeira dos infernos, então, com o chão molhado era bem mais fácil controlar o pó. Eram programas simples, despidos da malicia e da pornografia de hoje. Os beijos eram roubados no escurinho, rezando para que o “lanterninha” não aparecesse. 

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