terça-feira, 27 de novembro de 2012


Futebol em Sapucaia
Quando ainda estudava na Baiúca, ( Escola Maria Medianeira) trabalhava ali um cidadão de nome Joel Machado, sua função era de Auxiliar de disciplina. Cara legal, amigo de todo mundo incapaz de punir alguém, ou entregar para o diretor. Ele era muito chegado aos papos de futebol, entendido em leis. Por tudo isto foi eleito presidente da Liga Sapucaiense de futebol. Na época haviam muitos times de futebol em Sapucaia, praticamente cada vila tinha lá seu time de futebol, os mais conhecidos pela importância eram o Vera Cruz, O Sapucaiense, O Cubla, o Sial, todos disputando o campeonato da cidade. Também era realidade que todos possuíam seus “estádios” o campo do Vera Cruz, por exemplo, ficava na quadra que hoje corresponde as ruas Manoel Serafim,Laurentino Juliano,Rua Vera Cruz, e Marechal Deodoro. Havia muitas rivalidades entre os times, alguns com mais poderes aquisitivos do que os outros, ou ainda com jogadores mais técnicos, enfim. 

E neste particular Sapucaia tinha verdadeiros astros do futebol de várzea, O Carlos(goleiro) O Lola ( goleiro) o Medinho, o Eri Pavani (grande zagueiro) o Pelego, o Eli Zandonai o Wanda, o Ramão, o Benedito, o Nena. Naquele tempo eu fazia o meu pé de meia vendendo rosquinhas, fatias de bolo, merengues, e frutas como laranjas ,bergamotas, peras, maçã verde, tudo produtos de nossa chácara. E como a gente vendia bem, uma parte dos lucros ia para o domingo a tarde no Cinema Marabá, e a outra para a D. Adelia (minha mãe) que afinal de contas preparava as guloseimas.. Mas, quero contar uma passagem acontecida envolvendo uma disputa de futebol onde quase fui linchado. Era um domingo, sol escaldante, estava na maior das folgas na chácara deitado numa rede debaixo das pereiras, quando ouvi alguém que chamava. Era o Joel, queria que eu fosse cuidar, como representante da liga, um jogo de futebol entre os times do Vera Cruz e o Sial. 

Quando ouvi o nome dos times eu gelei. Eram os maiores rivais, e justamente onde mais aconteciam brigas, às vezes rolava até facadas, as pernas tremeram: Mas, Joel, eu não entendo nada disto, veio, manda outro para este troço, logo eu num jogo onde os caras se matam por nada,tira eu desta. Não teve jeito, ele garantiu que era por pouco tempo, logo em seguida ele estaria lá para me ajudar. Concordei, peguei  a ‘cristina” minha bicicleta, e me toquei pro campo do Sial. Chegando no local, me apontaram uma mesinha com uma cadeira sob um guarda sol improvisado, eu estava literalmente encharcado de suor, mas disposto a cumprir com a minha obrigação. O jogo era para ter início as quatorze horas, quando deu treze e cinquenta e nove o Sial, dono do mando de campo entrou fardado e cumprimentou a mesa. Eu, sinceramente não sabia o que fazer, minha vontade era sair correndo  e me esconder no meu quarto, só pensava em evitar uma paulada, uma facada ou um tiro, o tempo passando e o desgraçado do Vera Cruz não aparecia, e ninguém me dizia nada. 

Naquele tempo não havia vestiários, era um galpão onde os jogadores trocavam de roupas e deu. E o pior que não via uma viva alma do time visitante. Eu senti a base tremer quando alguém do Sial chegou perto da mesa e disse; tem que dar vitoria por VO. O quê? VO? Que é isto cara,eu não tinha a menor ideia do que significava o diabo daquele VO. Mas o cara disse aquilo e saiu de fininho, não demorou e apareceu outro com o maldito VO, com é seu representante vai dar ou não vai dar a vitoria pro nosso time, o Sr. Sabe que eles perderam por VO, não sabe? Claro que sei ,ora claro que sei, respondi. Então, o que está esperando? Vamos botar o time em campo, vamos chutar a bola e encerrar a partida. Puxa  vida, era tudo o que eu não queria ouvir. Levaram a bola para o centro do campo e já estavam prontos para dar início (e fim) ao jogo quando um caminhão sobe lentamente a lomba do campo com o time do Vera Cruz e a torcida gritando e agitando bandeiras. Daí foi um caos, uns queriam a vitoria por VO, outros alegavam que haviam chegado a tempo, e eu no meio sem saber o que fazer, só rezando em voz baixa para não apanhar. 

Tentei o golpe do João sem braço; pedi silêncio, que todos fossem para o centro do campo e aguardassem minhas determinações. Enquanto eles se aprumavam, no centro do gramado eu montei na bicicleta, e sai de fininho, juro por tudo o que é sagrado, nunca pedalei tanto e tão rápido, eu vinha lomba abaixo, cabelos em pé, eu queria sumir da vista da turba. Cheguei em casa , tremia como uma vara verde. Eu só pensava; daqui a pouco eles aparecem e vou levar uma surra como nunca levei. Não aconteceu nada,o Joel apareceu por lá resolveu a pendenga. Mas, só fiquei sabendo de tudo no outro dia na escola, depois daquele dia futebol para mim só pelo rádio, e assim mesmo olha lá.  

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