segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Susto de matar.
A nossa turma de amigos aqui da cidade, ainda da época de minha juventude, tinha lá suas querelas com as turmas de rapazes de outras cidades. Mas, a nossa invocação era mesmo com alguns caras de Esteio. Havia uma rivalidade, porém uma rivalidade sadia, eram apenas ameaças, algumas trocas de socos e ponta pés, alguns corridões neles daqui de Sapucaia para Esteio, e vice versa. Isto que vou contar aconteceu realmente por isto os nomes são verdadeiros, até como homenagem aos amigos que ainda estão vivos bem como alguns que já partiram. Éramos muitos, os principais, aqueles que estavam sempre achando algo para fazer eram; Eu, o Chico,o Luizinho,o Birajara,o Ubiratan, o Luíz, o Zezo, o Adriano, o Osmar, o Osvaldo,o Perceu, o Omar, o Miguel, O Eloir e muitos outros. Todos, fazíamos parte do CTG Estrela do Pago, que pertencia a outra amiga da época a Delfina Miranda, que era professora de música (acórdeon).
Costumávamos fazer bailes, e que bailes, coisa simples mas que todos se dedicavam. Tudo era realizado num galpão, que havia ali junto a distribuidora de bebidas do Seu Knack, na rua Sete de Setembro esquina com a rua Rui Barbosa, hoje ainda existem no local alguns resquícios do prédio da época. Nestes fandangos, (bailes gauchescos) era costume serem convidados outros centros de tradições, para que se apresentassem, mas, haviam uma condição que era primordial, não era permitida a presença nos bailes, dos chamados “cola fina” ou seja, aqueles gaiatos que queria se divertir com as nossas prendas e não vinham devidamente pilchados (trajados a caráter), estes, não entravam no baile. Assim criava-se uma animosidade, pois os caras vinham junto com outros centros, e ficavam de fora. Daí, mais tarde vinha o troco, pois quando éramos convidados para ir aos fandangos do Poncho Crioulo, tínhamos que “pisar em espinhos” e ficar bem comportados senão o pau comia. 
Foi num destes bailes a que fomos convidados, que aconteceu um fungunço que viria a entrar para a nossa história. A partir daqui a escrita é por conta do que me foi passado pelo Luizinho que havia saído mais cedo do baile, junto com mais alguns da turma. Eu ficara, pois como era o “Chirú das falas” era minha a incumbência de fazer as despedidas, mas, só no final do baile. O Luizinho, o Chico,o Birajara ,o Osvaldo e o Zezo (brigão) todos devidamente pilchados já estavam fora do salão, quando foram alvo de alguns comentários de alguns “cola finas” , a princípio não deram muita importância, mas a coisa foi aumentando,os ânimos se exaltando, os palavrões, acontecendo, algumas mamães foram acusadas de não serem flor que se cheirassem, ai descambou para a troca de socos. Naquele tempo a gente costuma vir a pé, cortando por atalhos, e ruas até chegar em Sapucaia. 
Agora imagine você a cena; cinco gaudérios devidamente pilchados (botas, esporas, bombachas, tirador, chapéu, lenço, guaiaca) correndo pelas ruas, atalhando por trilhas, invadindo pátios, sendo perseguidos por um bando de malucos armados de facão, riscando o chão para ameaçar. Com muito custo e algumas lambadas de facão nossos heróis conseguiram chegar até as imediações do cemitério da Primor ali, estavam a salvo, embora amedrontados, porém, pensavam, era bem melhor enfrentar um fantasma, um morto, uma alma penada do que aqueles cola finas armados de facão.Já no interior do campo santo, todos juntos, não falavam nada, respirar já era alguma coisa muito difícil. Seguiram serpenteando por entre os túmulos. Lá pelas tantas deram falta de um dos valentões o Zezo havia ficado para traz. Então voltaram, olhando para os lados, nos espaços entre os jazigos. 
Foi quando deram com o cara caído deitado sobre um túmulo, mesmo com a pouca luz podia-se notar a cara branca, parecendo cera, respirando com dificuldade. A princípio temíamos que tivesse sido ferido, mas não havia acontecido nada demais, ou melhor, havia sim acontecido algo, que ficamos sabendo só mais tarde, pela boca do próprio Zezo. Como estava cansado, pela corrida para fugir, ele havia resolvido sentar-se sobre uma lápide, só que na hora em foi levantar-se, o seu “tirador” ( espécie de avental de couro que o gaúcho usa nas lides de campo) havia enganchado numa pedra. Aquilo para ele teve o mesmo impacto de que alguém o estava segurando. Não deu outra ele desmoronou literalmente, com a bombacha devidamente encharcada de xixi.O bom de todos estes perrengues é que por mais que houvessem retaliações, nunca aconteceram coisas de maior gravidade, tudo ficava nas ameaças e mais nada.
A seguir; um baile em Taquara. Com direito a dormir no vagão do trem para esperar a volta

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