terça-feira, 6 de novembro de 2012


Uma Anaconda em Sapucaia.
Não acreditam?Então leiam com atenção. Conforme escrevi ontem no texto Sapucaia era Assim, tínhamos uma turma muito unida, e que, para aquele tempo também era da pesada. Até porque a topografia da cidade era muito diferente disto que ai está, haviam poucas casas, principalmente nesta área onde se situa a prefeitura. Toda aquela extensão, da beira dos trilhos até quase as proximidades da BR116 eram praticamente campos e muito poucas casas. Muito bem, acontece que ali onde hoje está o DTG do Rúbem Darío, havia uma lagoa, cercada de maricás e taquareiras. Ninguém nunca explicou como aquilo apareceu ali. A água era limpa, não potável, mas limpa.Tinha uma certa profundidade, pois a gente costumava pegar uma taquara bem grande e enfia-la e ela sumia todinha. 
Na época diziam tratar-se de um olho de boi. Bem ali próximo morava um casal de negros já bem velhos, junto com o filho, Nezinho. O Nezinho era parceiro de todas as tiranias da época, era alto, desengonçado, braços longos e meio corcunda. Mas, apesar das aparências era uma santa criatura, quando não estava aprontando, diga-se de passagem. Nãõ sei de invenção da cabeça dele ou de alguns mais antigos, criou-se a estória de que ali naquele lago, habitava uma cobra gigantesca,que comia cães,gatos e até pessoas. Passar por aquele trecho da rua Rolante depois de escurecer era como despedir-se da vida. Mas, quando se tem idade para malandragens não existem perigos, muito menos ameaças. E, foi assim que decidimos enfrentar a tal cobra íamos arrancá-la do buraco a qualquer custo. Os caçadores eram oito valentões que armados com facas, paus, canivetes e bodoques (fundas) marcaram a hora para o grande encontro. Havia inclusive a promessa de que esfolaríamos a cobra e levaríamos o seu couro para expor nas festas do Padre Gentil, sempre é claro com os créditos aos valentões da época. Chegou a hora,anoiteceu no reunimos no portão da chácara onde eu morava, pegamos um velho lampião de acetileno (eu havia construído especialmente para a caçada) O Luizinho e o Bira conseguiram duas pedras de carbureto, montamos a geringonça, e partimos para a grande empreitada. 
O tempo foi passando e nada do bicho aparecer. Foi quando alguém teve a ideia de cutucar a água, uma espécie de provocação para tirar o animal da toca. Cutucamos uma,duas, e na terceira cutucada a água redemoinhou violentamente, foi então que todos ficaram de cabelo em pé,algo lustroso,grosso começava a sair da água e se enroscar por entre as taquareiras, aquilo parecia não ter fim, era enorme. Sempre tive problemas para correr pois usava um aparelho ortopédico, mas naquela noite aquilo me assustou de tal forma que sai correndo com os demais. Os aparatos de guerra ficaram todos esparramados inclusive o lampião aceso a beira da água. Já afastados dali começamos a nos preocupar com a família do Nezinho, afinal aquele troço tinha saído para fora e ia em direção a casa do cara. Bombeiros só de São Leopoldo, a polícia (BM) daquele tempo era apenas um velho PM conhecido como João polícia, já quase aposentado. E, pior, não gostava nada de ser interrompido em casa. 
Assim, decidimos esperar pelo amanhecer e visitar o Nesinho para ver o que havia restado da comilança da noite. Cada um imaginava uma coisa mais horrível do que o outro. Será que haviam sido comidos? Será que havia sobrado alguma coisa? Será que valia a pena olhar o que restou? Quando chegamos, batemos palma , chamamos pelo Nezinho, ele então apareceu, na porta mandando que entrássemos. Íamos com um olho na casa e outro nas macegas em volta da lagoa. Foi então que quase caímos. Lá junto a porta de entrada da casa estava a gigantesca cobra, estava pendurada numa corda e ao seu lado o Nezinho dando gargalhadas, ele e a família olhavam para  nossas caras de bobocas e riam a não poder mais.Na verdade a cobra que iríamos matar,e que temíamos nos engolir não passava de várias pernas de calças velhas costuradas e cheias de grama. 
Durante uma semana o Nezinho não pode sair para fora de casa, iríamos bater o coro dele. O cara tinha feito uma coisa muito certa.Nos matou de medo. Depois tudo se acomodou, e voltamos a farra. A tal Anaconda não passava de um boato criado pelo pai dele para que a gurizada não tomasse banho naquelas águas.

Quinta Feira. A Lenda do tesouro enterrado junto aos três coqueiros. Bem no topo da lomba, bem onde se localiza a caixa de água da Prefeitura.

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