quarta-feira, 21 de novembro de 2012


Um fandango em Taquara.
A nossa turma  aqui da cidade eram praticamente todos participantes do Centro de Tradições Gaúchas Estrela do Pago. Era um Centro de cultura das tradições, pertencente a uma professora de acordeom, a Srtª. Delfina Miranda. Foi um dos primeiro centros a serem criados na cidade. Era simples, mas, muito requisitado, para as festas na região. Seguidamente éramos convidado a participar de bailes,festas, e principalmente dos fandangos. Nossa invernada era pequena, dez ou doze pares (prendas e peões), os convites geralmente aconteciam via carta, ou pessoalmente quando um integrante de outros CTGs, visitavam a cidade. Foi num destes momentos que recebemos o convite para um grande fandango na cidade de Taquara. 

Quando amanheceu naquele sábado, uma chuva miúda caia sobre Sapucaia, peões e prendas já preparavam para se deslocarem até a Estação da Viação Férrea, ali no centro. Chegamos, compramos as passagens e nos acomodamos nos bancos de ferro só esperando o apito do trem que viria de Porto Alegre rumo a Taquara. Finalmente ouve-se o apito da Maria fumaça, que vagarosamente se aproxima da plataforma de embarque.Conseguimos nos acomodar todos no mesmo vagão, bando duros de madeira,lustrosos impecavelmente limpos. Mas notamos que havia mais “gaudérios” no trem. As pessoas olhavam, sorriam, nós os peões       todos devidamente pilchados, nos sentíamos como verdadeiros artistas, botas, bombachas ,lenço alguns até com “chilenas” ou “esporas”. 

As prendas com seus vestidos rodados, cabelos penteados, sapatilhas de sola baixa. Convém lembrar que tudo corrria por conta de cada um, os gastos com comida, estadia e algum imprevisto nada era coberto por verba de nenhuma espécie. Não havia esta facilidade de hoje que você se apresenta na câmara com um ofício, fajuto, e já salta uma ajuda. Fazíamos seguidamente nossas promoções, mas a grana era para  a compra de novas pilchas, novos adereços. O almoço transcorreu de maneira simples, cada um levou alguma coisa para comer na viagem, e depois haviam algumas paradas nas estações quando então sempre entrava alguém no vagão para oferecer alguma coisa. Uma viagem gostosa, brincadeiras, danças, treinos, declamações de poesias, valia de tudo para mostrar o nosso grupo. A tarde foi de passeio pela redondezas ate a hora das apresentações. 

A chegada era sempre um momento muito aguardado pelos integrantes. Formava-se um grande fila, na porta do Centro de Tradições, e a medida que eram chamados o grupos já entravam no ritmo de alguma dança folclórica , Chimarrita, Pezinho, Tatu, Pau de fita, Balaio. Eu era o Chiru das falas ( espécie de relações públicas do grupo), a mim cabia o encargo de apresentar o CTG,fazer um breve histórico do grupo bem como apontar cada integrante. Geralmente a coisa começava assim; Buenas, indiada amiga, aqui estamos trazendo o nosso quebra costelas em nosso nome e em nome de todos os viventes e da indiada de Sapucaia. Queremos agradecer o convite e transmitir ao patrão da entidade a certeza de que esta invernada fará de tudo para abrilhantar este fandango. "E, sem mais delongas, abra a gaita prenda linda,quero ver o teu sapateado, roda a chita minha prenda, quero dançar ao teu lado, neste sapateado xucro quero reverenciar a cultura, deste Rio Grande adorado"....

Cada Centro tinha o tempo que quisesse para apresentar seus números artísticos, geralmente três danças, e uma poesia. Só depois das apresentações é que tinha início o baile propriamente dito. Começava lá pela meia noite indo até as cinco ou seis da manhã. Mas daí é que a coisa ficava boa. Trem para Porto Alegre, só no domingo a noite, então jeito era ir até a estação, comprar a passagem de volta e torcer para que tivesse sobrado lugar em algum vagão para poder tirar uma soneca. E olha que era concorrido. A gente chegava moídos de dor, mas como era bom depois nas reuniões fazer as avaliações dos “erros”, das “mancadas”, dos “foras” mas principalmente das namoradas que a gente arrumava. Eu sempre fui um chato para o negocio de namoro, e sempre da sorte, eu e o Luizinho éramos os mais metidos a namorador, e como prêmio pela insistência sempre acabávamos com as prendas mais bonitas. 

Como era gostoso tirar uma soneca enrodilhado nos braços da prenda, trocando carinhos e ouvindo coisas bonitas. Geralmente estes amores todos terminavam quando o trem parava nas estações de destino, até lágrimas as vezes aconteciam, com acenos de lencinho e tudo o mais. Mais ou menos como os amores das noites de carnaval. 

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