sábado, 2 de junho de 2012


A Chácara. (continuação).

Nossa nova casa, era de alvenaria, uma casa antiga. O banheiro ainda era do tipo “escarióla”, ou seja, não era revestida de azulejos. Na frente, bem abaixo do beiral das telhas havia uma inscrição –Vila N.Srª.das Graças – e, ao pé desta um gruta com a imagem de Nossa senhora.A gruta era toda coberta de flores, plantadas a sua volta e a entrada protegida por aspargos. Em toda a sua volta, a chácara era protegida por enormes pés de cinamomo, plantados a um distancia de três ou quatro metros um do outro.O terreno era todo cercado por arame farpado, coberto com cerca vivas.
O dia a dia na casa era o mesmo de todas as crianças, aos poucos foram chegando os amigos, organizamos times de meninos, para ocupar um pequeno campinho existente ao lado. Eu era goleiro, mesmo caminhando com um aparelho ortopédico para firmar a perna direita, era o goleiro escolhido. Meu pai costumava ficar fulo de raiva, pois cada jogo representava uma quebra na junta do aparelho. Por conseguinte eu ficava de molho sobre a cama, enquanto ele levava o aparelho na fábrica para que um dos mecânicos soldasse novamente.
Tínhamos o nosso CTG,(Estrela do Pago) criado por uma professora de acordeom(Delfina Miranda) ali ensaiei as primeiras poesias. Como tinha certa dificuldade para dançar, eu era o escolhido para fazer as apresentações – Chirú das falas – gostava de declamar, as poesias de Jaime Caetano Braum, Barbosa Lessa, e tantos outros autores da época. Organizávamos bailes, e recebíamos visitantes das cidades vizinhas. Era um evento para a rapaziada, o Luisinho, Eloir, Zezo, Luiz,Nêne, Gelson,Marlene, Ivon,Chico,Miguel,Omar,Maria,Negrinha.
Tantos outros que foram saindo, se mudando. Costumávamos participar de encontros em outros municípios e um que nunca mais saiu de minha memória foi de uma participação em um baile em Taquara, e fomo de trem. Saímos no sábado pela manhã e só retornamos na segunda pela manhã, pois não havia trem aos domingos para Porto Alegre. Dormimos todos dentro dos vagões estacionados na estação de Taquara. De outra feita, resolvemos (nos da casa) oferecer um carreteiro para o grupo de amigos do CTG.
O local escolhido foi debaixo das pereiras. Foi um espetáculo, iluminamos tudo com várias lâmpadas estratégicamente colocadas nos galhos mais altos, varremos as folhas, montamos uma grande mesa, e ali ao som da gaita de  outros instrumentos ficamos até altas horas dançando,brincando. Tudo sem malicias, sem abusos.Mas, as dificuldades da viúva e proprietária da casa foram se avolumando, e finalmente veio a má notícia, a chácara seria posta a venda. Aquilo caiu em nossas cabeças como uma bomba, as plantações, o pomar, as flores tudo cuidado, tudo mantido com carinho.
Não precisávamos mais cuidar de nada. Podíamos ter que sair a qualquer momento. Lógico que ninguém queria sair dali. Adorávamos a chácara. Uma manhã de sábado D. Elvira, acompanhada da tia Lucia e mais um homem apareceram por lá. Era um engenheiro amigo da viúva que vinha fazer uma avaliação geral da casa. Realmente a casa era uma construção antiga, e apesar de todos os cuidados apresentava algumas fendas, naturais pelo movimento do solo em algumas peças.
Inclusive o engenheiro alertou para que ficássemos de sobreaviso, pois em caso de trovoadas mais fortes poderia ocorrer a queda de algum pedaço de parede. Moramos por mais de dez anos, nunca caiu um farelo sequer de cimento. Para nos aquilo serviu para assustarmos alguns compradores, eles vinham, olhavam, perguntavam, e a gente (os filhos) alertávamos:
Olha, estas paredes já estão condenadas pelo engenheiro, se comp,rarem vão ter que demolir aqui, restaurar ali. Lógico o compador não aparecia nunca mais. Tanto os pai quanto a mãe , não falava nada, mas no fundo, no fundo gostavam das nossas mentiras piedosas.

....................continua...........

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