quinta-feira, 21 de junho de 2012

Funesto.


Um vereador “funesto”.
Este é um fato real. Aconteceu muitas vezes aqui na nossa Sapucaia do Sul, e já faz parte do anedotário da cidade, mas, este caso aconteceu realmente. A cidade  ficou conhecida graças a figuras pitorescas que por aqui passaram e ou até ainda residem no município. Os nomes dos personagens foram de forma intencional trocados. Qualquer semelhança com fatos, nomes e ou pessoas reais é mera coincidência.

 Pois bem, entre eles destaca-se a figura de um vereador, conhecido por fazer campanha em velórios, aniversários, batizados, casamentos, distribuir dentaduras, cadeiras de roda, camas hospitalares, bengalas, óculos, enfim toda esta parafernália de faz a alegria das classes menos favorecidas. Porem o comparecimento as festas eram na maior cara de pau, não precisava de convite, muito menos ser conhecido do homenageado. Bastava saber de alguma solenidade lá estava o “funesto”. 

Num de seus passeios pela cidade notou um pequeno alvoroço em uma capela mortuária. Chegou ao seu gabinete, e pediu para o assessor informar-se de quem se tratava, bastava o nome do defunto. A funerária, por questão de “ética” forneceu apenas o nome do falecido e a hora do enterro.Como de costume,solicitou o carro da câmara, encomendou uma coroa, um ramalhete de flores,vestiu o clássico traje preto, óculos escuros, uma garrafa térmica com cafezinho e lá se foi nosso ilustre edil, para as exéquias fúnebres. 

Lá chegando,foi abrindo solenemente caminho entre as poucas pessoas reunidas, depositou a coroa onde constava ; Com as homenagens do seu vereador Lindoberto. Junto depositou o ramalhete de flores, e assinou o livro de presença. Aproximou-se, compenetrado, benzeu-se,tocou de leve o rosto do cadáver, e com dedos entrelaçados em forma de oração pediu aos presentes um minuto de atenção. Ato contínuo falou: Amigos, vejam como é a vida, quem diria que neste momento estaríamos velando este nosso amigo, morto nestas circunstâncias. 

Tudo isto, os familiares abatidos, chorosos, tristes, inconsoláveis nos remetem a refletir sobre a segurança pública. As autoridades não respeitam mais nada. Quando é que pensei que esta senhora a quem recepcionei ainda ontem em meu gabinete, lhe encaminhando para uma consulta médica, estaria neste momento inerte deitada dentro deste caixão frio para a tristeza de todos nos.Acabo de fazer a doação de uma garrafa de cafezinho e outra de chá, as quais ficam como recordação deste amigo, aos familiares. 

O palavreado continuou por mais de quarenta minutos, as pessoas se entreolhavam estupefatas, olhos arregalados, não pareciam acreditar naquilo tudo que ouviam. O vereador Lindoberto falou de sua infância sofrida como engraxate, padeiro, jornaleiro e em todas aquelas fases aquela bondosa senhora ali no caixão havia lhe dado conselhos, havia lhe abrigado, educado, instruído. Notavam-se claramente lágrimas que rolavam pelo rosto do político. Era emoção pura, uma emoção que nem os próprios parentes estavam sentindo. 

Finalmente, ao encerrar sua fala, o vereador viu um velhinho de barbas brancas, levantar-se dirigir-se até próximo ao orador e pedir aos presentes que também gostaria de dizer algumas poucas palavras: Amigos,como neto da falecida Vò Nilda, quero agradecer ao ilustre visitante, agradecer as flores,a coroa, as garrafas de café e dizer que estou surpreso com tudo o que ouvi deste senhor. E, por que estou surpreso, pelo seguinte: Minha avó morreu de causas naturais, estava com 102 anos.Viveu, estes últimos dez anos num lar de idosos em Taquara, de onde seu corpo chegou a pouco mais de cinco horas. 

E, o mais importante de tudo isto é saber que ontem, bem na hora em que era confirmado o óbito ela estava “espiritualmente” solicitando uma consulta médica ao gabinete do vereador. Todos, cabeça baixa, ergueram os olhos a procura do “vereador” que estranha e coincidentemente havia sumido.

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