sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Expoínter.Só alegrias


Este espaço tem abordado muitos tema políticos. Mas tem hora que a gente precisa treinar outras coisas. Venham comigo a este passeio na Expoínter, tenho certeza de que irão adorar.

Tenho, um amigo. Homem simples, rude, criado no interior do município la para os lados de Morungava. Dificilmente sai de casa,tem medo de assaltos, mas, principalmente que alguém apareça e leve suas galinhas. Vive com a mulher, a sogra, uma cunhada e quatro filhos, tipo escadinha, você entende? Não sei como, as crianças tomaram conta da realização de uma grande feira em Esteio, e que nesta feira teria parque de diversão, muitos animais, e até cantores sertanejos. O resultado foi que tivemos, eu e o meu amigo de dar um jeito de levar a criançada ao parque. Que suplício. Tenho um velho opala ano 74, duas portas e me dispus a dar carona, pois achei que de carroça seria bem mais difícil. Na hora marcada, lá esta eu com a máquina estacionada frente ao portão. 

De repente a porta abre e começa a sair uma verdadeira mudança, caixa de isopor, balaio, caixa de ovos, saco de carvão, saco com carne, linguiça, pacote de arroz,rede para dormir, cadeiras de praia, lenha, e uma pilha de jornais. Escabelei-me, pensei: Onde é que vou colocar isto tudo? Olha que o porta mala de um opala é uma garagem, mas, uma mudança. Coloca uma coisa aqui, outra ali, o porta mala fechou. Mas, restaram algumas tralhas, e agora. A Odiles leva duas crianças menores no colo, a sogra, a cunhada e os outros dois vão juntos no banco traseiro, eu fico na frente e levo o resto das coisas . Ponderei ao meu amigo que a polícia rodoviária criaria problema, pois a lotação do carro era de no máximo cinco passageiros e nos estávamos com oito pessoas, alem do que as molas já estavam arriando. Tudo acomodado lá fomos nós para o parque. 

De início uma tranqueira dos demônios, carros lentos, encostadinhos um no outro, o velho opala morto de inveja dos importados que jogavam fumaça preta na cara de todo mundo, um calor sufocante, as crianças brigando pelo lugar na janela, um dos menores estava com uma diarreia parecendo que iria derreter todinho. Aquela fila não andava, não se mexia. Eu comecei a sentir um enjoo, uma ânsia de vômitos, faltava o ar o suor corria pelo rosto. De repente gelei, um luz no painel começou a piscar intermitentemente, o motor estava aquecendo demais, o radiador estava fervendo, e nos alis empacados. Quando finalmente chegamos até a bilheteria, foi outro parto, ninguém sabia que aquilo ali era pago, que tínhamos que comprar ingressos, os menores já haviam passado por debaixo da catraca, o guarda chiou, monologou um palavrão, meu amigo não gostou e ofendeu o guarda, as mulheres carregadas de tralhas atrapalhavam os outros que queriam passar, trocavam impropérios. 

Enquanto vasculhava os bolsos a procura de moedas para o troco, a esposa do meu amigo puxou os cabelos de uma velha gorda que lhe dirigira um palavrão, a velha deu o troco chutando -lhe as canelas. As caixa com mantimentos viraram, o isopor quebrou.
Nem sempre a gente recebe a merecida recompensa por um ato de caridade,no meu caso me dispondo a ajudar meu amigo, o máximo que consegui foi receber uma indulgencia pelos sacrifícios sofridos. Com a quebra da caixa de isopor foi um festival, gelo, linguiça, maionese, latinhas de cerveja e garrafas de refrigerantes esparramaram-se pelo chão. Um catador passou a mão nas latinhas , e nas garrafas , um cachorro guaipeca saiu puxando uma tripa de linguiça, outro deu de dentes no saco de pãezinhos, cada uma das crianças saiam a cata do que podiam, e eu ali assistindo a tudo, parecendo que a cabeça iria estourar. Finalmente um momento de sossego, todos dentro do parque. 

Agora era procurar um lugar, uma sombra, botar as cadeiras e pelo menos dar uma descansada. Engraçado, não sei se todos já repararam, mas, pobre tem uma vocação incrível para o sofrimento. Depois que já estávamos ali sentados, olhando aquela família, as crianças se atirando e rolando na areia, jogando pó uns contra os outros, eu comecei as pensar: Pucha, o que é que estou fazendo aqui com toda esta gente, aqui tudo é caro, estão todos pelados, e agora até sem comida. Ninguém entende nada de zebu, holandês, angus, cavalos manga larga, cavalo crioulo ou ovelhas Texel. A roda gigante, o Carrossel, a Montanha russa, tudo é caro, alem de perigoso. Resolvi, que nem tudo deveria ser desgraça, assim fomos até uma tenda para forrar o estômago, as minhas custas é claro, cachorro quente e refrigerante pra todo mundo. 

Depois então o passeio. Uma multidão se acotovelando, uma criança cai, o outro some, outro quer algodão doce, pipoca, enchem as mãos de folhetos, bonés de papel, propaganda de bancos, financeiras, e os malditos dos apitos, estridentes, parecendo furar os tímpanos. Nestas alturas eu já estou imaginando a volta. Todos cansados, suados, fedendo a suor,sujos de poeira, o carro havia sido deixado lá quase na beira do rio, chegar até ele com aquele universo de bugigangas todas, e as mulheres brigando umas com as outras poderia ser comparada com o drama de João Cabral de Melo Neto -Morte e vida Severina. Desta vez parece que os céus disseram amém e tudo correu como esperado, sofrimento. Começou então o carregamento, já escurecendo. Todos acomodados, graças a Deus vão embora. Dou a partida e não acontece nada, o motor não deu nem sinal. Apeei, levantei o capô e quase cai de costas, haviam levado a bateria. 


Nisto vejo uma kombi, parada a alguns metros adiante, chamei o cara e perguntei: Quanto tu cobras para levar esta família até Morungava ? O cara olhou, pensou, e lascou: Trezentos pilas eu levo e largo no portão. Tá contratado. O senhor também vai? Perguntou. Não, eu não vou,quero sentar dentro do meu carro e chorar, chorar como nunca eu chorei na minha vida. 

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