quarta-feira, 31 de outubro de 2012


Uma doação.
Comecei sentindo uma pequena agonia, um pequeno desconforto, parecia que não havia posição capaz de aliviar aquela desagradável sensação de angústia. Sentado, deitado, recostado, me encolhendo ou espichando, o mundo parecia ir ficando pequeno. O quarto encolhia, o ar faltava. Eu sabia, era o início de outra daquelas crises de falta de ar. A respiração ficando cada vez mais difícil, o ar não aparecia, o peito parecia murchar, eu estava afogando eu estava morrendo. Acordei num quarto branco, silencioso, abri os olhos lentamente tentando me situar. Haviam colocado um tubo na boca e outros dois menores pelas narinas. Ao meu lado um cilindro verde reluzente, cheio de válvulas, fornecia o oxigênio que aliviava minha angústia. Aos pés da cama, sentada sobre um sofá velho e surrado, podia ver minha mãe, com as duas mãos no rosto e um ar de preocupação. Tentei sorrir. Mas sorrir como? É uma tarefa muito difícil quando se tem uma sonda, enfiada em nossa garganta, nestes casos a única coisa possível é um esgar, um arremedo de sorriso. Muito embora sempre me assustasse com estas crises eu já estava acostumado com este tipo de situação, afinal, desde que fora diagnosticado de que eu sofria de hipertensão pulmonar, minha vida se resumia em idas e vindas a um hospital, ou ambulatório. Minha esperança conforme o médico meu parceiro de agonias, era um transplante, e este dependia de uma série de fatores, nos quais infelizmente, eu não podia interferir só rezar, rezar e aguardar. Na verdade eu sabia que minha vida estava dependente de uma fórmula matemática; minha sobrevida está para um transplante, assim como a permissão da família está para o doador. Ou seja, corro contra o tempo, tenho que economizar os  pulmões que possuo, nada de esforço, nada de brincadeiras,nada de correrias, nada de jogar futebol. Mas como é difícil, vejo este céu tão lindo, as árvores todas cheias de vida, elas também,  embora afetadas pela poluição, conseguem balançar ao sabor das brisas, acolher os pássaros, fornecer sombra. Mas eu não posso quase nada, tudo para mim é em doses homeopáticas, até o ar que respiro. Este relato, não fala de mim, graças a Deus tenho pulmões saudáveis, nunca senti sequer por menor que fosse a sensação de falta de ar, assim como muitos dos que estão lendo este artigo. Quis, e não sei se consegui, descrever ainda que minimamente o sofrimento de uma pessoa que sofre com a perspectiva de que a qualquer momento pode ter sua vida interrompida pela falta de um doador. Eu sei, é duro de aceitar a perda de um familiar, mas, quem sabe doando uma parte, deste ente querido, a dor não suavize com a certeza de que estaremos ajudando a salvar outra. Alguém poderá olhar o céu, abrir os braços encher os pulmões e gritar bem alto; obrigado Deus,obrigado a este doador anônimo pela minha nova vida. 

Seja um doador,doe vida. Uma campanha do Blog Maresias em prol da valorização da doação de órgãos. Lembre-se, neste exato momento pode ter alguém esperando pela sua decisão.

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