segunda-feira, 28 de maio de 2012


Progresso, isto é bom?

Quando vim morar em Sapucaia, isto em 1954, encontrei um universo tão diferente de onde até então vivia, que parecia impossível me acostumar com tantas coisas diferentes. Nasci e me criei na Rua da Fábrica de papel e papelão Justo e Cia. Naquele tempo, chamada de Rua da Paia. Ali o passa tempo era a pesca de lambaris, ou então as brincadeiras dentro dos fornos da Olaria dos Dauts, ali bem perto da minha casa. Mas, veio o convite, para cuidarmos de uma chácara aqui na cidade.O proprietário havia falecido e a viúva mudou-se para Porto Alegre. Morávamos numa pequena casa de 5,40X 5,40, alugada, de um dos sócios da fábrica, não tinha pátio, pois a casa dava de fundo para um banhado.
A nova casa possuía onze peças, espaçosas, e eram 12 terrenos juntos, bem ali na rua Sete de Setembro quase fundos do Cine Marabá. Arvoredo imenso, todos os tipos de frutas e verduras, e não pagávamos um centavo de aluguel. Tudo era novidade, um quarto para cada um, a casa toda mobiliada, ferramentas, um verdadeiro paraíso. Mas, o que mais cativou toda a família foi a cidade. Parecia coisa de contos dos livros que meu retirava do lixo, e comprava a quilo. Foram estes primeiros livros o começo de minha humilde biblioteca, alguns com mais de quarenta anos guardo até hoje.
A cidade simples, Um clube, o Sete de Setembro,Times de futebol: O Vera Cruz,o Sial, o Sapucaiense, o Cubla, o Taurus e muitos outros. O cinema Marabá, As festas do Padre Gentil, os acampamentos no Morro de Sapucaia. O Grupo Escolar da D. Sibila, os desfiles do dia sete de setembro. Os dias de estréias, no cinema do seu Edegar, eram dias de festa na cidade. As pessoas residentes nas zonas mais afastadas vinham até de carroça. Estas ficavam “estacionadas” na beira da rua, os animais amarrados junto aos moirões que cercavam os trilhos do trem, cuja passagem ficava situada exatamente onde estão o pé da passarela do antigo cinema. Os grandes filmes da época eram os clássicos bíblicos, Sansão e Dalila, Quo vadis, Os dez Mandamentos, O dia em que a Terra parou, não faltando as chanchadas do cinema Nacional, e os sempre aplaudidos                  sucessos de Mazaroppi.
Mas o tom interiorano da cidade era dado pela estação ferroviária, ali no centro. As tardes de domingo eram as preferidas para acompanhar a passagem do trem que vinha desde Taquara até Porto Alegre. Os vagões lotados, a gente passava entre os vagões vendendo frutas, rosquinhas,e merengues que minha mãe fazia. Também aos domingos podia-se fazer uma féria nos jogos de futebol, no campo de Vera Cruz, que ficava bem ali próximo a loja primavera da Manoel Serafim. Ali era um grande campo, que começava perto da igreja e ia quase até o cemitério da vila primor. Casas mesmo, só haviam do lado  direito no sentido centro bairro.Todo o resto, salvo a parte do campo de futebol era mato.
Gradativamente as coisas foram mudando, Sapucaia foi inchando, a dificuldade em encontrar serviços básicos começou a criar a idéia de emancipar-se de São Leopoldo. Serviços de infra estrutura, até então, somente eram conseguidos após muitas discussões dos nossos representantes no legislativo leopoldense. Com a emancipação começaram os problemas. As primeiras brigas “políticas” estava nascendo uma nova era para a cidade...

 Continua....

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