terça-feira, 24 de julho de 2012



                                  Diógenes, também procurava um Homem
A mídia e a boa aceitação.
Antigamente, as campanhas eleitorais eram muito mais, vamos dizer, simpáticas, a propaganda era feita ao pé do ouvido, vizinho para vizinho, os parentes apresentavam sua preferências nas reuniões familiares. Não havia discussão, até porque se alguém levantasse a voz a conversas era encerrada e ponto final. Não havia tantos disque disques, tantas acusações. O candidato que tinha alguma coisa contra si era por ser realmente bandido, e contra ele ninguém se atrevia. 

Hoje, recebi um comentário pelo facebook, onde um amigo, que por sinal faz parte de uma chapa concorrente aqui no município, me contesta num ponto de vista. Reconhecidamente a chapa deste meu amigo é a mais fraca, e a que realmente tem as menores chances de eleger-se. Mas, diz, ele, estamos tendo muito boa aceitação nas vilas e bairros, quero ver ,no final, se tens razão no que diz. Então me concentrei nesta frase – “estamos tendo muito boa aceitação” , realmente o que poderia significar ter uma boa aceitação? Um sorriso do vizinho que nos recebe no portão? Um aperto de mão do conhecido? A buzina do carro que passa? O cidadão que ouve pacientemente as ladainhas dos candidatos, as promessas, a velha conversa fiada? 

Será que realmente isto significa aceitar alguma coisa? Aquela velha prática da qual falei lá no início, é coisa do passado. Antigamente a gente até podia tentar vender o candidato, mostrar o lado positivo de cada um, as qualidades que o meu tem e que o outro nem sequer conhece. Mas isto era antes, agora, estes conceitos não servem mais. As mercadorias que são oferecidas no portão de nossas casas geralmente já estão alteradas,maquiadas,devidamente empacotadas e embrulhadas para presente. Hoje já não se decide mais pela propaganda ao pé do ouvido, a mídia se encarrega de preparar o produto. Tudo o que temo de fazer é escolher qual destes nos vamos oferecer. 

E não adianta procurar por qualidade, todos tem as mesmas qualidades, propriedades finalidades de uso, tudo é meticulosamente estudado e preparado até a hora da apresentação a sua porta. Daí, você, como bom consumidor olha a embalagem, tudo bonito, muitas cores, e sequer presta atenção nas letrinhas bem miudinhas que lhe informam o que contém aquele pacote bonito que você está levando. E não adianta a vizinha lhe alertar para a baixa qualidade, os defeitos, as contra indicações, os males que aquilo ali pode lhe proporcionar. A embalagem é bonita e pronto. É assim que ocorre numa eleição, a mídia nos prepara os pratos a serem servidos. 

Dependendo da equipe de marketing, é possível transformar um crápula num herói, um demônio, num santo, e um verdadeiro tirano num paladino da justiça. A mídia se encarrega de fazer a varredura da vida e das ações, tanto do candidato que vai vender, quanto dos opositores. Ai vale tudo, desde pesquisas em jornais, revistas, vídeos, processos passados, pareceres de técnicos vale tudo mesmo. A única coisa que não levamos em conta é o verdadeiro conhecimento que temos, as experiências passadas com os candidatos que ora se nos são apresentados. Compramos e levamos a mesa o pão industrializado, sem darmos a mínima importância ao pão preparado no forno a lenha caseiro, feito por mãos conhecidas. Vamos consumir o produto que a mídia nos apresenta, o do rótulo bonito cheio de cores. 

Se, em sua fórmula estão alguns ingredientes indigestos que podem até me prejudicar não tem a mínima importância, eu quero aquele que me foi indicado como o melhor, muito embora no meu íntimo eu tenha convicção de aquilo não passe de uma grande porcaria. Se é verdade ou mentira todos estes meus argumentos é só prestar atenção num detalhe: Quem,de todos estes candidatos até agora se apresentou com sua verdadeira cara, assim, aquela foto três por quatro nua e crua com todas as imperfeições, mas que realmente é a minha cara. Ninguém, isto mesmo ninguém mostra verdadeira cara. Primeiro a minha cara vai ser apresentada a minha equipe de vendedores, a mídia. Vão retocar, dar brilho, implantar cabelos, ajeitar o bigode a barba, até um sorriso são capazes de implantar no rótulo. 

O negócio é vender, e imagem desfocada, humilde, verdadeira, não vende. Tem que haver maquiagem. Por tudo isto não confio neste negocio de “boa aceitação” 

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